terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os princípios e a sua aplicação

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Por Ferreira Fernandes

É COMUM os Estados pagarem resgate aos terroristas que sequestraram os seus cidadãos. A Argélia quer que a ONU denuncie essa prática e compreende-se o seu interesse. Com a vaga de sequestros no Magrebe, a Al-Qaeda já recolheu 50 milhões de euros, dinheiro com que melhor se armou e organizou - e desestabilizou os governos locais. Argel apontou os governos europeus que cederam à chantagem e pagaram pela libertação de seus cooperantes e turistas: este ano, à cabeça vem Espanha, que deu 8 milhões de euros por três raptados.
O jornal El Mundo perguntou ao embaixador argelino na ONU: "Não acha que se os resgates não fossem pagos, os cooperantes já estariam mortos?" Resposta: "Se calhar sim, mas se Espanha pagou os resgates, mais cidadãos seus serão raptados..."
O preço de um resgate hoje anda à volta de cinco milhões de euros por refém, o que torna a libertação só possível num negócio entre os terroristas e os governos - um cidadão isolado não pode pagar tanto. O "dever ser" é claro: governo que paga, não só alimenta os terroristas como, mostrando-se fraco, torna mais vulneráveis os seus cidadãos a futuros raptos. Mas depois há os casos concretos para complicarem as certezas claras. Este ano já foram mortos um francês e um inglês porque não foi pago resgate.
Suspeito que os respectivos governos não sejam populares em casa desses infelizes.
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«DN» de 14 Set 10