sábado, 11 de setembro de 2010

Limpezas

Por João Paulo Guerra

O PSD
convocou para a sua designada Universidade de Verão o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade.
E o padre aproveitou o púlpito e não foi de modas: falando para os aprendizes de social-democracia na modalidade liberal alaranjada, perorou que "a Igreja precisa muito das mulheres... senão quem é que fazia as limpezas?". A estupidez da afirmação do presbítero só por si já era suficiente para definir o nível intelectual, o ambiente cultural e o cenário ideológico da auto-proclamada Universidade. Mas, para não deixarem dúvidas sobre o que lhes vai nas mentes, os jovens "pêpêdês" frequentadores do "cursilho" receberam a parvoeira com fortes aplausos. Sinal dos tempos: a história das mentalidades retrocedeu em Portugal aos tempos do marquês de Marialva. E, sob o ponto de vista marialva, mulheres na Igreja bastam as necessárias para as limpezas. Supostamente jocoso e evidentemente desbocado, o sacerdote foi no entanto cauteloso. Poderia ter dito que "a Igreja precisa muito das mulheres... senão quem é que fazia de governantas dos párocos?". Mas isso prestava-se a réplicas e tergiversações picantes ou mesmo maldosas, que o vigário cuidou de evitar. A Igreja sempre acompanhou e benzeu as visões mais reaccionárias do mundo e das sociedades, por vezes contra a visão preclara de alguns dos seus mais esclarecidos praticantes. O mito da inferioridade da mulher nasceu com a lenda da origem de Eva, criada nos termos das escrituras a partir de uma costela de Adão. E foi assim que estagnou ao longo do História, culminando na idealização da mulher confinada à Igreja, aos filhos e à cozinha da teoria do "Mein Kampf". Mas que grandes limpezas andam a pedir as mentalidades em Portugal!
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«DE» de 10 Set10