segunda-feira, 13 de setembro de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

NÃO É FÁCIL perceber o que terá levado José Sócrates e Passos Coelho a fazerem da questão das deduções fiscais em Saúde e Educação a pedra basilar do Orçamento para 2011. E muito menos se afigura de fácil compreensão o que, verdadeiramente, cada um pensa e defende nesta matéria.

O líder do PSD começou por colocar, como uma das duas «condições minimalistas» para viabilizar o OE, não haver «mais aumentos de impostos», de forma directa ou indirecta. Incluindo nesta última a redução das deduções fiscais. Face à inflexibilidade de Sócrates, o secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, veio abrir a porta a uma cedência, dizendo que o problema não é nos escalões das classes mais altas: «O que é inaceitável é o Executivo querer mexer a partir do 3.º escalão». No dia seguinte, o conselheiro económico de Passos, Nogueira Leite, mostrou a sua discordância: «O PSD não deve transigir nas deduções fiscais. Não deve haver transigência em relação a nada». Face à barafunda instalada, o próprio Passos Coelho esclareceu no SOL que «não deve haver aumento de impostos em nenhum escalão». Para, um dia depois, adiantar ao Expresso outra versão: «Se o Governo tivesse dito que cortava as deduções a partir do 6.º ou 7.º escalão, ainda era compreensível». Confusos? O próprio Passos Coelho parece estar.

Sócrates, por seu lado, afirma a pés juntos que o recurso dos contribuintes às deduções «é, sem dúvida, uma injustiça do nosso sistema fiscal que o PS quer legitimamente corrigir». Por sinal, este é o mesmo Sócrates que se indignava, há menos de um ano, clamando que os cortes nas deduções fiscais conduziriam a «um brutal aumento para a classe média». Agora, passou a ser «uma injustiça» não aumentar a carga fiscal da classe média. Contraditório? Não, é apenas Sócrates no seu melhor.

COM UM Orçamento que terá de baixar o défice público em 4 mil milhões de euros (de 7,3% para 4,6% do PIB), 600 mil desempregados e o risco de incumprimento da dívida portuguesa a bater recordes negativos nos mercados internacionais, Sócrates e Passos só podem andar a brincar com a falsa querela das deduções ficais. A brincar com o fogo.
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«SOL» de 10 Set 10