quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O caso do chinelo encontrado morto

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Por Ferreira Fernandes

ESTA SEMANA, alguns sites dos jornais portugueses trouxeram o mais interessante título das últimas décadas. Esse texto veio da agência Lusa, e o Expresso e o jornal i pespegaram-no felizmente sem emenda. O título, óptimo, era: "Espinho: 'Não há indício de crime' no caso do chinelo encontrado morto', diz a PJ".
Os títulos são isca e anzol e raramente vi um tão aliciante. Fala-se muito da crise da Imprensa mas houvesse mais histórias destas e não faltariam leitores. Mesmo dando de barato a sugestão da bófia, "não há indício de crime", o caso do chinelo encontrado morto tem daqueles atractivos que antigamente faziam os ardinas apregoar e o povo comprar. Quem encontrou o chinelo morto? E, tendo-o encontrado, como lhe confirmou o passamento? Fez-se, antes, respiração boca a boca?... Enfim, ainda que oficialmente morto em toda a legalidade, o caso do chinelo morto cheirava a esturro.
Infelizmente, como é próprio do costume português, tendo uma bela história entre as mãos (ou melhor, pé), os jornais decidiram destruí-la. Depois do título (óptimo, como já disse), acrescentaram um texto desmotivador. E ficámos a saber que o magnífico chinelo morto era, afinal, um infeliz chileno encontrado morto em Espinho. O que podia ter sido uma boa história não passou de uma dislexia ortográfica.
Ora lobas! Perdão, bolas.
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«DN» de 15 Set 10