Por João Paulo Guerra
RARAS vezes a equipa da Federação Portuguesa de Futebol mereceu tão justamente a designação de Selecção Nacional como agora. A Selecção é verdadeiramente o espelho do País: uma barafunda, onde toda a gente ralha e não se vislumbra quem tenha razão, e com péssimos resultados.
A bagunça actual tem antecedentes: a campanha de Saltillo, o vexame de Seul. E embora o futebol se constitua em Portugal como um Estado dentro do Estado, a verdade é que absorve e assume sem excepção muitos dos vícios nacionais: dirigentes intocáveis, culto da irresponsabilidade, opacidade nos procedimentos, mentalidade paroquial, relacionamento clientelar. A isto há a acrescentar, nos últimos anos, a fundada suspeita de que entre os critérios para a escolha do seleccionador é altamente valorizado o carácter conflituoso e mesmo agressivo do candidato. Scolari como Queiroz, no desempenho do cargo de seleccionador nacional, envolveram-se em conflitos verbais e mesmo em cenas de pugilato, passando incólumes por todas as situações. Mas agora, parece que a FPF quer despedir Queiroz, porém sem custos indemnizatórios.
A Selecção é uma das quintas do latifúndio da Federação dirigido com espírito feudal. Gilberto Madail é presidente desde 1996; Amândio de Carvalho é vice-presidente desde 1983. Ambos têm ligação à política: o primeiro saltou de uma lista de candidatos a deputados pelo PS para a lista rival do PSD; o segundo é autarca eleito pelo PS. E a política está activamente envolvida no processo com vista ao despedimento do seleccionador, apesar da propalada separação de poderes. O futebol é um quarto poder onde o poder político não resiste a meter o bedelho.
Onde tudo isto vai parar é imprevisível. Mas, para começar, Portugal empatou com Chipre.
«DE» de 7 Set 10