domingo, 12 de setembro de 2010

Justa homenagem

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Por Guilherme Valente

JOSÉ SÓCRATES, no início do mandato anterior, preconizou e foi apregoando algumas medidas acertadas na área da educação. Medidas que há muito tempo, aliás, vínhamos defendendo. Algumas dessas medidas foram sacrilégio para os «especialistas», os ideólogos, a nomenclatura que manda no Ministério. Percebeu-se logo, portanto, que tais medidas iriam ser sabotadas. Foi o que aconteceu.

Que medidas foram essas? José Sócrates enumerou-as na homenagem recente à Doutora Maria de Lourdes Rodrigues: directores nas escolas; cursos profissionais; avaliação dos professores; educação ao longo da vida. E mesmo medidas mais específicas, como, por exemplo, o Plano de Acção para a Matemática.

Vejamos as medidas e a respectiva sabotagem:

1. Os directores nas escolas. Uma medida essencial. Mas foi sabotada, com a conivência ou a permissão da ex-ministra: quem decide na escolha a do director? Que autoridade lhe é confiada e que autonomia tem para a sua acção? Mesmo assim, os efeitos benéficos dessa medida logo começaram a manifestar-se, facto que, evidentemente, ameaça o poder controlador do "eduquês" e, por isso, sabe-se agora, com a criação criminosa dos mega-agrupamentos, preparam-se para desfazer tudo, substituindo a figura do director por comissões de instalação. Designadas por quem?

2. A formação profissional. Desde logo não fazendo o que devia ter sido feito, como estou farto de escrever: a oferta criteriosa, a tempo de prevenir o abandono, de uma via técnico-profissional, de exigência e dignidade iguais à via de acesso ao ensino superior, via que, na Finlândia é frequentada, aliás, pela maioria dos estudantes. O que passou a existir, predominantemente pelas antigas escolas industriais e comerciais, foi em larga medida criado e oferecido por iniciativa de directores e professores, graças ao seu espírito de iniciativa e dedicação, mas sem o empenhamento autêntico, muito pelo contrário, do ministério. Cursos improvisados aos quais não foram dadas condições mínimas de funcionamento, meios humanos e materiais indispensáveis, sem reconhecimento e dignificação pelo ministério. Há professores a ensinarem disciplinas de marcenaria sem saberem pregar um prego. Afinal, como afirmou um dia a Senhora que a Ministra agora homenageada colocou na presidência do Conselho Nacional de Educação, «todos os meninos podem ser doutores» (alguns até nem querem).

3. Quanto à avaliação dos professores, não foi necessário encomendar um modelo com a recomendação de que fosse tonto, absurdo e impraticável, para não funcionar. Bastou pedir aos especialistas que elaborassem um modelo.

4. Quanto à iniciativa das Novas Oportunidades, que na mente do Primeiro-Ministro poderá ter surgido como o embrião de uma imperativa formação ao longo da vida, nem vale a pena referir no que, na sua esmagadora generalidade, o Ministério da «Educação», a tornou. É o que se sabe.

5. O Plano de Acção para a Matemática, promovido alegadamente para resolver os problemas que os responsáveis pelos programas, pelas orientações curriculares e pela formação de professores tinham causado, foi confiado pela ex-ministra a quem? Precisamente aos mesmos, aos mesmíssimos responsáveis pela tragédia no ensino da Matemática.

A Senhora Doutora Maria de Lourdes Rodrigues mereceu bem a homenagem que lhe fizeram...