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Por Carlos Fiolhais
NO FINAL DO SÉCULO passado tornou-se comum, na Alemanha, a expressão Nein, Danke, quando se falava de energia nuclear. Em 1986 tinha acontecido o acidente de Chernobyl, que originou uma nuvem radioactiva sobre a Europa Central. A romancista alemã Christa Wolf escreveu um romance sobre o assunto: Acidente. Multiplicaram-se na época os protestos contra as centrais nucleares. No ano de 2000, o governo alemão, sensível a esses protestos, resolveu determinar o encerramento a médio prazo das 17 centrais nucleares existentes. E não seriam construídas outras.
Mas os tempos hoje são diferentes. No passado recente, o aumento das necessidades energéticas, o risco do aquecimento global, a instabilidade no Médio Oriente e o elevado custo das energias renováveis têm feito repensar a questão da energia nuclear. O governo alemão, presidido por Angela Merkel (que estudou Física e tem um doutoramento em Química Quântica), acaba de anunciar um adiamento do projectado fecho das centrais em funcionamento, concedendo uma moratória de oito anos para as centrais mais antigas e de 14 anos para as centrais mais recentes. A revista Der Spiegel noticiou com algum humor: “o governo deixa radiantes os amigos do átomo”. Isto acontece numa altura em que outros países europeus têm centrais em construção, em avançado estado de planeamento ou em fase preliminar de proposta. Na Europa, a Finlândia e a França estão a construir um reactor nuclear, e a Eslováquia dois. Países que torceram o nariz ao nuclear como o Reino Unido e a Itália têm agora centrais planeadas ou propostas. Fora da Europa, entre os países mais desenvolvidos, os Estados Unidos têm uma central em construção, o Canadá duas, o Japão também duas e a Rússia dez. E, em países com economias emergentes, o avanço do nuclear é ainda mais visível: a China tem 24 reactores em construção (além de 33 planeados e 120 propostos!), a Índia quatro e o Brasil um.
Em Portugal, onde a electricidade é das mais caras da Europa, o debate sobre a energia nuclear tem reaparecido a espaços, embora não seja tão nítido e produtivo como noutros países. O actual governo tem procurado evitá-lo e, quando não o pode fazer, tem-se pronunciado contra, preferindo defender as energias renováveis. O ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio, do partido do governo, não hesitou, porém, antes de ir para a Europa, em defender o estudo da opção nuclear, apontando o exemplo finlandês. O principal partido da oposição, embora não advogue claramente a alternativa nuclear, tem-se pronunciado a favor da discussão sobre ela. Na minha opinião, o assunto não deve ser considerado tabu. A controvérsia que se vai agudizar nos próximos meses na Alemanha não deixará de ter um impacto aqui.
.Por Carlos Fiolhais
NO FINAL DO SÉCULO passado tornou-se comum, na Alemanha, a expressão Nein, Danke, quando se falava de energia nuclear. Em 1986 tinha acontecido o acidente de Chernobyl, que originou uma nuvem radioactiva sobre a Europa Central. A romancista alemã Christa Wolf escreveu um romance sobre o assunto: Acidente. Multiplicaram-se na época os protestos contra as centrais nucleares. No ano de 2000, o governo alemão, sensível a esses protestos, resolveu determinar o encerramento a médio prazo das 17 centrais nucleares existentes. E não seriam construídas outras.
Mas os tempos hoje são diferentes. No passado recente, o aumento das necessidades energéticas, o risco do aquecimento global, a instabilidade no Médio Oriente e o elevado custo das energias renováveis têm feito repensar a questão da energia nuclear. O governo alemão, presidido por Angela Merkel (que estudou Física e tem um doutoramento em Química Quântica), acaba de anunciar um adiamento do projectado fecho das centrais em funcionamento, concedendo uma moratória de oito anos para as centrais mais antigas e de 14 anos para as centrais mais recentes. A revista Der Spiegel noticiou com algum humor: “o governo deixa radiantes os amigos do átomo”. Isto acontece numa altura em que outros países europeus têm centrais em construção, em avançado estado de planeamento ou em fase preliminar de proposta. Na Europa, a Finlândia e a França estão a construir um reactor nuclear, e a Eslováquia dois. Países que torceram o nariz ao nuclear como o Reino Unido e a Itália têm agora centrais planeadas ou propostas. Fora da Europa, entre os países mais desenvolvidos, os Estados Unidos têm uma central em construção, o Canadá duas, o Japão também duas e a Rússia dez. E, em países com economias emergentes, o avanço do nuclear é ainda mais visível: a China tem 24 reactores em construção (além de 33 planeados e 120 propostos!), a Índia quatro e o Brasil um.
Em Portugal, onde a electricidade é das mais caras da Europa, o debate sobre a energia nuclear tem reaparecido a espaços, embora não seja tão nítido e produtivo como noutros países. O actual governo tem procurado evitá-lo e, quando não o pode fazer, tem-se pronunciado contra, preferindo defender as energias renováveis. O ex-governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio, do partido do governo, não hesitou, porém, antes de ir para a Europa, em defender o estudo da opção nuclear, apontando o exemplo finlandês. O principal partido da oposição, embora não advogue claramente a alternativa nuclear, tem-se pronunciado a favor da discussão sobre ela. Na minha opinião, o assunto não deve ser considerado tabu. A controvérsia que se vai agudizar nos próximos meses na Alemanha não deixará de ter um impacto aqui.
«SOL» de 10 Set 10 e De Rerum Natura