sábado, 1 de agosto de 2009

De capa e batina


Por Antunes Ferreira

O TONY CARREIRA que se cuide. Porque, se o facto de ele encher o Pavilhão Atlântico é bem demonstrativo da sua popularidade, outro valor mais alto se levanta. Não, não se trata do Marco Paulo que tudo faz para iludir os 60 anos que já completou. O Marco teve a sua época, os dois amores, o maravilhoso coração, maravilhoso e por aí fora. Muito menos do Quim Barreiros que queria cheirar o bacalhau e, tudo o indica, continua a querer. Feitios.

Mas de música pimba em exclusivo não vivem as editoras discográficas. O alerta para o que vem aí envia-se também à Dulce Pontes, à Marisa, ao Camané, mesmo ao Carlos do Carmo, um mito vivo da canção lusa. Todos se têm de precaver. O futuro de tantas estrelas do show business ameaça ser sombrio, tamanhas são as nuvens ameaçadoras que se amontoam no horizonte. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

E que dizer do Angélico, do David Fonseca, o Boss AC, dos Da Weasel? Tudo gente portuguesíssima, tudo malta das canções, com mais charme ou menos dança, tudo numa boa, como agora se costuma dizer, em mais uma herança que recebemos do Brasil, para além dos dentistas, dos futebolistas ou dos empregados de restaurante.

Eles próprios, os artistas cantores e afins estão preocupados. Muito preocupados. Assustados, muitíssimo. Amedrontados. Começaram já a sentir-se quase aterrados. O anúncio do tsunami musical que está a chegar é, na verdade, justificativo de tais receios. Perguntam, pergunta-se, quantos discos de oiro, de platina, quiçá mesmo de diamante ficarão disponíveis em Portugal?

Contrariamente ao que é uso e costume em Portugal, desta vez não parece ser culpado o Governo: muito menos neste contexto, o primeiro-ministro é mentiroso. As bocas abrem-se de espanto – mas é assim, ainda que algumas almas boas e um tanto ingénuas reclamem a intervenção do ministro Pinto Ribeiro. Porque, dizem a cultura musical portuguesa está perante uma ameaça tremenda e quem melhor do que o titular da pasta deverá intervir?

Outros, um tanto mais sindicalistas ou similares, avançam com a absoluta e premente necessidade de uma intervenção dura da SPA. Aparentemente, ela está cada vez mais inofensiva e inerme, diz-se até que mais incolor, insípida e inodora. Referem fontes habitualmente bem informadas, que sabem da poda, que já se encontra a correr na net um abaixo-assinado protestando contra a inércia da entidade da Duque de Loulé.

Finalmente uns quantos cantores, autores de letras e músicos, mais escassos embora, mas mais esclarecidos, apontados (sem confirmação) como bloquistas apresentaram ontem também um veemente protesto ao Dr. Manuel Sebastião, exigindo que a AdC, a Autoridade da Concorrência abra um rigoroso processo de averiguações sobre o momentoso caso. Não põem de parte a interposição de acção judicial. E, avisam, não é caso para menos.

O motivo de tão grande alarido foi o anúncio por parte da editora Geffen UK/Universal do lançamento no final do ano de um CD interpretado por Sua Santidade o Papa Bento XVI. No disco, de propósitos natalícios, chamado inicialmente "Alma Mater" (traduza-se, "mãe que alimenta", na língua dos Romanos), o Pontífice gravará mensagens e cantará músicas em Latim, Italiano, Espanhol, Francês, Alemão e Português. Nem Washington nem Londres fizeram ainda qualquer declaração a este propósito - de estranheza, no mínimo.

A editora classificou a voz do Papa como «incrível». O disco incluirá a ladainha Lauretana, cantos marianos e oito melodias clássicas. O prelado recitará também passagens da Bíblia e orações, e será acompanhado pelo coral da Filarmónica de Roma, conduzida por Pablo Colino, maestro emérito da Basílica de São Pedro. A britânica Royal Philharmonic Orchestra gravará as composições clássicas nos estúdios Abbey Road, em Londres.

O Vaticano já confirmou o acontecimento musical do ano e, quiçá do século, para não dizer já do milénio, ainda que o futuro a Deus pertença e o Santo Padre reclama-se como seu delegado cá em baixo. Ninguém da editora nem do Estado da Igreja divulgou os valores envolvidos na produção e lançamento do disco; mas, foi anunciado que os lucros do álbum serão doados para projectos de educação musical para crianças carentes pelo mundo.

Cantores de todo o Mundo – uni-vos. E em especial fadistas de Coimbra tomai tento: este será realmente um fado de capa e batina. Mas, desta vez, brancas.