sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O fado do 31


Por Antunes Ferreira

ULTIMAMENTE O 31 é número empolgante para os sportinguistas. É a camisola de Liedson, que vai ser Português dentro de dias, a tempo de tentar resolver o problema dos golos da selecção nacional. E de safar o infeliz Carlos Queirós. O Levezinho tem direito a cartaz especial empunhado por adeptos mais expectantes: ele resolve! E está tudo dito. Umas largas vezes não resolve coisa nenhuma, porque a equipa verde e branca é o que sabe.

Ele representa entre os de Alvalade a esperança do sebastianismo tão do agrado de muitos cidadãos deste País. Vã, diga-se, tais os resultados que os leões vêm alcançando, por falta de euros para adquirir grandes estrelas do chuto. E apesar das obnóxias declarações do novo presidente do clube, José Eduardo Bettencourt – por vezes difíceis de compreender pela massa associativa – a última coisa a morrer para aquelas bandas, salvo seja, chama-se Liedson da Silva Muniz.

O 31 já era célebre por mor de um fado. Antigo, que foi inclusive interpretado pela Beatriz Costa e hoje faz parte do repertório do Rodrigo. A letra é a melhor justificação para se entender que o 31 para nós quer significar sarilho grosso. Recordo aqui parte dela «À porta da Brasileira; dois tipos encontram dois; juntam-se os quatro e depois; lá começa a cavaqueira; agrava-se a chinfrineira; vai aumentando o zum zum; vem bomba arrebenta e pum; depois mais tarde vereis; 24, 26, 29 e 31 ... Ai !!!»

Poderia também referir o restaurante 31 da Armada, mais um exemplo apenas. No entanto, a partir da segunda-feira desta semana um novo elemento veio juntar-se a todos os outros. Pelo início da madrugada, membros do blogue com o mesmo nome, 31 da Armada, encostaram tranquilamente, uma escada à varanda da Câmara Municipal de Lisboa, treparam e substituíram a bandeira lisboeta ali hasteada pela da monarquia.

Episódio entre a galhofa e o kafkiano, que levanta muitas interrogações. Desde o saudosismo dos monárquicos, até à anedota da cena ter sido filmada em DVD, presumo, também com tranquilidade, penso, e posteriormente dada a conhecer ao público. Completando esta singular ocorrência, dois parceiros do blogue foram devolver a bandeira branca e preta na quinta-feira, «devidamente lavada e engomada» à CML, de onde seguiram para a Polícia Judiciária a fim de prestarem declarações. O município tinha apresentado uma queixa sobre o assunto.

O rocambolesco evento mereceu de Nuno da Câmara Pereira, líder do PPM, o comentário que fez ao Diário de Notícias: "não são só as eleições que qualificam a Democracia". E mais disse que a acção de hastear a bandeira da monarquia nos Paços do Concelho de Lisboa por parte de elementos do blogue 31 da Armada fora “um acto de grande dignidade e simbolismo".

Não me restam dúvidas, ainda que poucas já tivesse. O Senhor Doutor Sigmund Freud por estas nossas bandas não se safava nem com umas dezenas de divãs. Portugal não é para ser levado a sério, Portugal não é sério. Ponto. Este episódio podia perfeitamente ter sido interpretado pelos irmãos Marx – mas não era tão estapafúrdio. Ainda que o título de um dos seus filmes, “Casa de Doidos” seja perfeitamente aplicável ao nosso quotidiano…

Poderá dizer-se que não gosto da monarquia. É verdade. Mas também não gosto de palhaçadas. Li, já não sei onde, que o Senhor Dom Duarte considerara o que acontecera como muito significativo, nem sei mesmo se um sucesso. O pretendente ao trono (qual?) de Portugal também tem o direito à baboseira.

Convenhamos. A segurança da CML não é… segura. Se é que existe. Se calhar, apenas nas horas de expediente, com intervalo para almoço e subsídio de refeição. Expliquem-me que não tenho razão e darei a mão à palmatória. Entretanto, uma pergunta final. E se alguém tivesse colocado uma bomba na varanda de onde foi proclamada a República e feito explodir o edifício?