quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Rol dos da raça de segunda

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Por Ferreira Fernandes

O CARDEAL Mazarin nasceu Giulio Mazarino, em Nápoles, e foi primeiro--ministro francês, de Luís XIV.
Marie Skolodowska nasceu em Varsóvia, foi Nobel da Física duas vezes mas entretanto já era Madame Curie e francesa.
Três tipos juntaram-se e fizeram três grandes filmes: Z, A Confissão e Estado de Sítio. O que escreveu as histórias nasceu em Madrid, Jorge Semprún, o que realizou nasceu em Atenas, Costa-Gravas, e o que deu cara nasceu numa aldeia italiana, Yves Montand. Três filmes franceses, três tipos franceses.
Também Serge Reggiani, nascido italiano, Dalida, nascida no Cairo, e Moustaki, nascido em Alexandria, se tornaram cantores franceses.
Johnny Halliday não conta, o pai é que era belga, Johnny nasceu em Paris, não entra neste rol de naturalizados (já a primeira mulher, Sylvie Vartan, nasceu búlgara).
Belga de nascimento era Marguerite Yourcenar, a primeira mulher eleita para a Academia Francesa.
Por escrever bem em francês, como Milan Kundera, que nasceu em Brno, na Moldávia.
Todos franceses. Mas, atenção, de segunda.
Esta semana, Sarkozy decidiu que há essa raça à parte: franceses a quem se pode tirar a nacionalidade porque não nasceram franceses. Como é que ele explica isso lá em casa à mulher, que nasceu italiana, e ao pai, que nasceu húngaro?
Diga-se, entretanto, que Napoleão escapa: nasceu em Ajácio, três meses depois de a Córsega se tornar francesa. Uff...
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«DN» de 8 Set 10