sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Cegueira

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Por João Paulo Guerra

LÊ-SE NOS JORNAIS e custa a crer: “A escola de Lamego que, no ano passado, foi escolhida pela Microsoft para integrar a rede mundial de escolas inovadoras, fechou as portas.


Os 32 alunos da EB1 de Várzea de Abrunhais - que dispunham de ‘wireless' e em cujas aulas os Magalhães trabalhavam conectados com o quadro interactivo - foram transferidos para um centro escolar onde não há telefone nem Internet".

Será possível? Claro que é possível. Passa-se em Portugal, onde toda a alarvidade fruto de uma política cega é possível. Fechou agora uma escola eleita pela Microsoft como já fecharam unidades de saúde acabadas de equipar. A EB1 de Várzea de Abrunhais nem sequer estava na lista negra das escolas com menos de 21 alunos que, por esse cego e estúpido motivo, estão condenadas ao encerramento. Fechou, porque sim. Porque o Governo manda e a Direcção Regional pode. E lá se vai a razão que colocou uma aldeia de Portugal no mapa-mundo da inovação tecnológica, o que parece não constituir motivo de orgulho para um país atrasado. Portugal prefere os trágicos recordes europeus do abandono e do insucesso escolar e da desertificação.

Há seguramente quem se recorde, como eu próprio me recordo, das primeiras escolas encerradas em Portugal pelos governos de Cavaco Silva - anos 80 e 90 do século passado - perante a maior indignação e a denúncia da oposição socialista, a nível central como local. Mas a verdade é que também os socialistas mudaram nas últimas décadas.

Cada escola que encerra é mais uma pazada de terra que se deita sobre o futuro de um Portugal ilustrado e desenvolvido. A política do fecho de escolas e de estabelecimentos de saúde é cega. Mas a cegueira do poder político é o complemento necessário e suficiente dos olhinhos das clientelas.
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«DE» de 24 Set 10