sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Análises

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Por João Paulo Guerra

BEM PODE António Arnaut clamar que “nem a falta de recursos deveria alguma vez pôr em causa o SNS”.

Os actuais governantes e dirigentes do partido do Governo não só não têm memória nem sensibilidade social, como não têm muito de socialistas. De maneira que encaram Arnaut, o fundador do Serviço Nacional de Saúde, como uma flor de lapela, um ornamento, um patusco, mas não lhe passam cartão. O PS continua a agitar a bandeira de António Arnaut, porque tem ali um taxímetro para facturar votos. Mas governos e ministros do PS têm liquidado na prática, em doses suaves ou à bruta, a herança de António Arnaut.

E assim, de corte em corte, o "tendencialmente gratuito" do SNS está cada vez mais caro e inacessível. Nem se percebe a contestação dos "pê esses" aos propósitos dos "pê esse dês" que querem riscar da Constituição da República um preceito que nenhum governo tem respeitado. Muito pelo contrário: um preceito que todos os governos têm desrespeitado.

O mais recente corte que se anuncia no sistema de saúde é um atentado não apenas ao espírito do SNS e à Constituição como também ao direito à vida de muitos portugueses, doentes ou gozando de saúde. De acordo com o Correio da Manhã de ontem, as análises e exames clínicos têm os dias contados de modo a que o Governo "poupe" 13 milhões nos encargos com a Saúde. Para já, trata-se de contas de mercearia: o Governo "poupa" numa parcela que lhe sairá muito mais cara no futuro. Em segundo lugar é um sinal da maior insensibilidade e desumanidade afastar milhares de portugueses da possibilidade de terem um diagnóstico precoce de uma eventual doença. Há pacientes portugueses que se salvaram de doenças cardiovasculares como de doenças oncológicas mas que temem agora não sobreviver à política de saúde do actual Governo.
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«DE» de 17 Set 10