quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Uma tenda para dois Kadhafis

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Por Ferreira Fernandes

EM ROMA, sê romano, na terra de Silvio Berlusconi paga a umas raparigas giras para te irem visitar.
De visita a Roma, Muammar Kadhafi contratou uma agência para lhe arranjar 500 jovens para o escutar. Seria Berlusconi puro, não fosse o conselho às raparigas para terem decoro nos decotes e elas terem saído com um Alcorão de oferta. Às raparigas, o líder líbio prometeu uma Europa muçulmana. A Itália, ele propôs uma união com "uma só etnia e uma só religião". À Europa, ele vendeu a ideia de estancar a emigração africana, para que a Europa não venha a ser "negra".
É muita geopolítica numa só cara onde a barbicha rala, o ar desabusado e os óculos escuros insistem em identificá-lo mais com o sexagenário milionário que aluga acompanhantes em agências. Em três dias, Kadhafi fez de Aníbal Barca, o general cartaginês que quis unir Roma e o Norte de África, e fez de Tárique, o general berbere que tentou islamizar a Europa entrando por Gibraltar.
Muammar Kadhafi só se esqueceu de fazer do líder africano que ainda no começo do ano propôs, na Organização de Unidade Africana, um governo único para África. A haver este, como explicaria Kadhafi a sua bipolaridade: era o africano que quer juntar-se aos italianos (logo que estes se islamizassem) ou era o líbio que afasta os negros dessas misturas?
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«DN» de 1 Set 10