terça-feira, 14 de setembro de 2010

Escola

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Por João Paulo Guerra

COMEÇOU O ANO escolar com alunos sem professores, professores sem alunos, escolas fechadas sem alunos nem professores, escolas em obras.

O costume. Nos tempos do salazarismo, as escolas chegavam para todos, porque eram frequentadas por uma minoria. Havia como hoje os colégios particulares, os estabelecimentos públicos designavam-se escolas da Câmara, mas a maioria da miudagem, nas aldeias, vilas e cidades, andava descalça e não ia à escola. Ainda sobrevivem desses tempos tenebrosos de obscurantismo meio milhão de analfabetos. Depois, com a democracia, o ensino passou a ser obrigatório e funcionar para as estatísticas. E o insucesso e abandono escolar varrem-se para debaixo do tapete.

No Público de ontem podiam ler-se opiniões muito interessantes, de investigadores e professores, sobre o papel dos pais no combate ao insucesso escolar. Pais interessados pela vida escolar dos filhos, desde o primeiro dia de escola, folheando em família os manuais, interessando-se pelo circulo de colegas e amigos dos filhos, sobrelevando os valores do esforço e da ética do trabalho. Um quadro idílico próprio da vida em democracia, como a "pobreza lavadinha" - expressão do Luís Filipe Costa - era a representação pastoril da cinzenta sociedade salazarista.

Porque a questão que está por saber é quantos pais terão disponibilidade, ou meios materiais e intelectuais, para servir de esteios a um combate dos filhos contra o insucesso escolar. Quantos estão em casa com os filhos em tempo útil, com horários cada vez mais escravizantes, com distâncias imensas a percorrer entre o trabalho e a casa, com preparação insuficiente já adquirida na balbúrdia do sistema português do ensino, com mentalidades herdadas do antigamente ou formadas já na actual sociedade da indiferença?
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«DE» de 14 Set 10