quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Atendível

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Por João Paulo Guerra

AFINAL, por alguma justa causa ou razão atendível, o PSD decidiu mexer à última hora no projecto de revisão com o qual pretendia tornar irreconhecível a Constituição da República.


A discussão da revisão, por força do calendário introduzido pelo PSD, vai cair em cima dos debates do Orçamento e da campanha presidencial. Certamente que alguns itens do projecto inicial de revisão eram susceptíveis de provocar desgastes ao partido proponente em momentos tão sensíveis.

E assim, o PSD retirou do projecto inicial as previstas alterações aos poderes presidenciais. Não faltariam, na corrida a Belém, remoques confrontando o candidato e o partido genética e sociologicamente ligados. E assim caiu o processo de simplificação de demissão do Governo, não fosse alguém levantar a questão de que se tratava de uma revisão constitucional por feitio e medida para uso imediato.

O grande mistério do projecto de revisão constitucional do PSD - à hora a que escrevo - é porém de natureza semântica. Os social-democratas - ao arrepio da própria designação genealógica que ostentam - queriam simplesmente acabar com a justa causa como condição para despedimentos.

Confrontados com a brutalidade da proposta, mudaram-lhe a denominação para "razão atendível", o que pura e simplesmente não quer dizer nada em concreto mas abre as portas para tudo. Mas o disfarce da "razão atendível" também caiu e agora o PSD promete uma modalidade de ginástica semântica para dizer aquilo que quer - despedimentos sem condições - de uma forma menos brutal que passe na nota artística.

O tempo dirá se a revisão constitucional deste PSD teve entradas de leão e saídas de sendeiro. É que a revisão não se vota com resultados de sondagens e o PSD, por enquanto, precisa da cumplicidade do PS.
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«DE» de 15 Set 10