segunda-feira, 3 de maio de 2010

Crises

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Por João Paulo Guerra

POR UM DAQUELES imprevistos que acontecem, sobretudo a quem tem alguns problemas de incompatibilidade com a própria coerência, no mesmo dia em que os jornais davam à estampa a restauração formal do Bloco Central, ilustrada com fotos do novo enlace entre PS e PSD, a publicação de uma entrevista concedida dias antes pelo líder do PSD ao jornal espanhol ABC azedava o relacionamento entre os dois partidos e respectivos líderes.

Entre aquelas duas almas praticamente gémeas, que até tiveram um passado comum na JSD embora com meia dúzia de anos de décalage, afinal o entendimento é uma fina capa de verniz. Dizia Passos Coelho ao ABC que o primeiro-ministro português "perdeu credibilidade", é "arrogante" e anda "desorientado". E rematava considerando "muito difícil" que o primeiro-ministro "dure quatro anos".

À mesma hora, noutro ponto da cidade, e sem que tivessem certamente lido a entrevista ao ABC e tirado dali conclusões e consequências, deputados do PS e PSD criticavam as direcções dos respectivos partidos. Uns queixavam-se que o líder anda a promover o adversário. Outros denunciam a oposição "suave" que vislumbram no horizonte.

E eis que surge a cereja em cima do bolo. Uma sondagem da Marktest para o Diário Económico dava o PSD e Passos Coelho seis pontos à frente do PS e de José Sócrates nas intenções de voto actuais dos portugueses. Excluindo um fogacho no Verão de 2009, por ocasião das eleições europeias, há anos que o PS e Sócrates subalternizavam o PSD e os sucessivos líderes nas sondagens.

De maneira que a crise financeira, que como sempre em Portugal vai derivar em crise económica, ameaça também descambar em crise política. A verdade é que se acabassem as crises os portugueses eram capazes de estranhar.
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«DE» de 3 Mai 10