segunda-feira, 17 de maio de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

COM QUE CARA
irá José Sócrates enfrentar os portugueses a partir de agora? Como poderá olhar de frente qualquer cidadão depois de ter garantido que não iria aumentar impostos nem existia tal necessidade, depois de o ter reafirmado a pés juntos, há pouco, no Parlamento? Como conseguirá encarar uma câmara de televisão ou a população de qualquer localidade onde se desloque depois de fazer subir todos os impostos: o IVA, o IRS, o IRC? Que legitimidade e autoridade pessoal ainda lhe restam para justificar, de cara levantada, a irresponsabilidade de ter negado até ao limite da insensatez a obrigatoriedade de arrepiar caminho? E de ter impedido, até ao último minuto, que se tomassem medidas de emergência para travar a gravíssima crise da dívida do país?

José Sócrates já se convertera num primeiro-ministro politicamente fragilizado, com a sua imagem marcada de forma irremediável por um défice de seriedade e de credibilidade. A sua personalidade combativa e determinada já não disfarçava a vacuidade dos discursos, a insuficiência das explicações, a falta de confiança que inspirava.

O grau de inconsciência política e a obstinação cega que revelou, nas últimas semanas, ao tentar iludir a catastrófica situação em que deixara o país mergulhar – continuando a teimar nas grandes obras públicas e num patético discurso a celebrar o crescimento ilusório da economia – transformaram-no de primeiro-ministro exangue num chefe de Governo virtual, que vive noutra dimensão da realidade, num mundo de fantasias e mentiras. Regressou de Bruxelas – depois de Merkel e Sarkozy o forçarem a descer, momentaneamente, à terra – a negar tudo o que antes dissera. E a comprovar que, face ao seu estado de alucinação política, o primeiro-ministro em funções neste Governo, por força das circunstâncias, se chama Teixeira dos Santos.

Sócrates tornou-se já um has been da nossa vida política. E um estorvo, a prazo, para o PS. Com a campanha presidencial de Manuel Alegre, a combater o PEC-1, o PEC-2 e toda a política de austeridade do Governo, o PS corre o risco de se tornar um partido esquizofrénico. E de chegar em fanicos a 2011. Pode agradecê-lo a Sócrates.
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«SOL» de 14 Mai 10