quarta-feira, 12 de maio de 2010

Depois

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Por João Paulo Guerra

NO ANO DE 2002, quando o poder lhe caiu inopinadamente no colo, o PSD de Durão Barroso adoptou como primeira medida exactamente o contrário da promessa em que mais martelara para ganhar as eleições, como efectivamente ganhou: aumentou o IVA.

Recordam-se? E recordam-se do comentário do PS, então na oposição? O PS comentou que ao aumentar a carga fiscal o PSD estava a transformar uma crise financeira em crise económica: empobrecia as classes que consomem e depauperava o mercado interno. Tanto mais que depois de aumentar impostos o PSD desembestou em cavalgada contra o bem-estar mínimo das classes média e baixa: atirou-se ao crédito bonificado e ao rendimento mínimo e deu início ao desmantelamento da estabilidade do emprego.

Mas não é lícito comparar a reacção do PS de 2002 com a governação do PS de 2010. Em 2002, o primeiro-ministro PS abandonara o governo ao constatar a situação pantanosa do país. Mas havia um domínio da governação em que os socialistas tinham ganho algum crédito. Era na área social, na qual o titular da pasta da Solidariedade, Eduardo Ferro Rodrigues, granjeara o epíteto de "ministro dos pobres". Enfim, ainda havia, como ainda haverá, socialistas. E a fuga do primeiro-ministro deixara o PS nas mãos precisamente do também chamado, na altura, "mensageiro da esperança". De maneira que as medidas com as quais o PSD estava a transmudar uma crise financeira em crise económica foram zurzidas atempada e adequadamente pelo PS. Foi por essa ocasião que a maioria silenciosa do PS, animada por uma minoria activa, começou a fazer a vida negra ao secretário-geral do partido e ex-ministro "dos pobres".

E depois? E depois governo e oposição, alternadamente e em consonância, passaram a fazer a vida negra ao comum dos portugueses.
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«DE» de 12 Mai 10