quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rolhas

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Por João Paulo Guerra

OS PORTUGUESES, de há uns anos para cá, não se têm dado muito à defesa de causas.

A última terá sido por Timor-Leste, no final do século passado, e está por saber se a gigantesca mobilização nacional não teria por lastro um vago sentimento colonial: estavam a mexer em algo que era "nosso". Mas foi bonito de ver. Depois disso, talvez no Euro 2004, com as bandeiras à janela mas com um tiro do grego Charisteas no porta-aviões a afundar as esperanças nacionais. Depois disso, em matéria de causas, cada um governa-se.

Mas eis que The Wall Street Journal levanta a discussão: rolha de cortiça ou de plástico? E lá estão os portuguesinhos a opinar e a votar em massa no ‘site' do jornal. "Plástico ou verdadeira cortiça: qual é a melhor maneira de fechar uma garrafa de vinho?", eis a questão. The Wall Street Journal explica que nos últimos 10 anos 20 por cento das rolhas das garrafas de vinho foram substituídas por uma espécie de "cortiça" plástica que oferece ao mercado "rolhas" de plástico encortiçado a preços entre 2 e 20 cêntimos (de dólar).

Ontem, a meio da manhã, tinham votado mais de oito mil leitores, ou simples frequentadores, da edição ‘online' de The Wall Street Journal e a generalidade das declarações de voto eram assinadas por Santos, Dias, Borges, Fernandes e aparentados. Os argumentos eram em geral de natureza ecológica: a cortiça é um produto natural, regenera-se a si própria, ao contrário do plástico é biodegradável. E a votação era esmagadora: mais de 96 por cento votavam cortiça. E aqui temos como começando à procura da rolha se descobre uma verdadeira e boa causa.
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«DE» de 20 Mai 10