quinta-feira, 13 de maio de 2010

"Milagres"

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Por João Paulo Guerra

UMA TENTATIVA de furto por um carteirista na Rua do Alecrim foi tudo quanto o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP registou na terça-feira, 11 de Maio.

Nesse dia o Papa iniciou em Lisboa uma visita de quatro dias a Portugal e logo aconteceram dois "milagres" na capital. Lisboa não mergulhou no caos com os cortes do trânsito automóvel e do estacionamento nos eixos vertebrais da cidade. E com a presença de polícias nas ruas não se registou qualquer caso de criminalidade digno de nota.

Em Portugal, e particularmente em Lisboa, a iniciativa anual do Dia sem Carros foi muito bem acolhida no primeiro ano - e muito bem aproveitada mediaticamente pela classe política - mas nos anos seguintes descambou, acabando por ser uma celebração meramente simbólica. Se, por absurdo, o Papa viesse a Lisboa sem se fazer anunciar, em visita particular ou em gozo de um fim-de-semana prolongado, o Papamóvel voltava ao Vaticano directamente para o bate-chapa. Isto se voltasse. Porque também poderia ser vítima de ‘carjacking' ou simplesmente roubado mais discretamente do local de estacionamento. Mas o Papa veio em visita oficial e o Estado empenhou-se na sua comodidade e segurança: retirou os carros das ruas por onde a comitiva papal passasse e espalhou agentes de polícia pela cidade. A cidade não implodiu ao som de buzinões. E só não foi um dia normal porque foi diferente para melhor. E em matéria de criminalidade, zero.

Isto quer dizer que é possível dar às cidades e aos habitantes maior qualidade e mais segurança. Apesar de alguma escassez dos efectivos há polícias para saírem para as ruas e evitarem o crime. Como é possível que a cidade seja mais alguma coisa que um caótico e doentio parque de estacionamento. E não se trata de "milagres" mas de decisões.
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«DE» de 13 Mai 10