terça-feira, 4 de maio de 2010

Imprensa

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Por João Paulo Guerra

Passou ontem, e passou quase despercebido, o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

OS PORTUGUESES têm esse bem inestimável quase sem dar por ele. Lêem o que querem e pensam que lêem o que acontece na política, na economia, no social, na sociedade, na cultura, dentro e fora do País. Porque, felizmente, a maior parte da população portuguesa não sabe o que foi a censura e dá a liberdade de imprensa como uma realidade adquirida e irreversível. Mas não é.

Recordo-me de 1971 quando participei na redacção e na angariação de assinaturas para o manifesto da Comissão Nacional de Defesa da Liberdade de Expressão, facto bastante inocente mas que me valeu uma ficha na PIDE e uma carta do antigo SNI a desaconselhar alguns patrões da imprensa e rádio de me darem trabalho caso eu o procurasse. E a verdade é que tive de o procurar, pois em 1972 foi despedido de um programa que fazia na Renascença, em 73 dos Noticiários do RCP e entre 73 e 74, trabalhei quatro meses num jornal que acabou por não sair.

As reuniões do núcleo fundador da Comissão foram em casa do actor Rogério Paulo e a novidade do Manifesto foi prolongar a discussão sobre a liberdade de imprensa, para além da questão geral das liberdades públicas, entrando pelo tema da concentração dos meios de comunicação. Mas nessa altura até o Dr. Francisco Pinto Balsemão constatava que "se uma revista pertence a um grupo açucareiro, nela não se escreverá que o açúcar engorda".

Hoje, a liberdade de imprensa é um bem consumível e a maioria dos leitores, espectadores e ouvintes não tomará consciência da fragilidade e precariedade desse bem inestimável. A liberdade de imprensa tem que ser defendida e defende-se de vários modos. Um deles é exercendo-a, que é aquilo que estou a fazer, neste momento e nesta coluna.
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«DE» de 4 Mai 10