sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Obama e o Freeport

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Por Antunes Ferreira
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BARAK HUSSEIN OBAMA foi criticado pelo Hamas. Pelo que disse e fez no que concerne ao Médio Oriente. Recordo que mal se sentara na Casa Branca, o novo Presidente teve de repetir o juramento porque se enganara, ligeiramente embora, no que fizera aquando da investidura. O seu antagonista na corrida eleitoral, John McCain (regressado ao Senado) entrou também logo a matar - «é muito fácil dizer que vai fechar Guantanamo. O difícil é fazê-lo». Falava numa entrevista, tendo-se apressado a dizer que estava na disposição de ajudar Obama. Com amigos ou ajudantes destes…
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De Washington, um despacho da AFP de ontem dizia que «(…) ele declarou o fim da guerra contra o terrorismo do antecessor e começou a sanear a reputação dos Estados Unidos no exterior, ao ordenar o fecho da prisão de Guantanamo». Foi o grande destaque da imprensa americana».
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Mas a Agência diz mais: «O jornal Washington Post afirma que a ordem de Obama de fechar as instalações de Guantanamo no prazo de um ano, acabar com os interrogatórios com tortura e encerrar as prisões secretas da CIA no exterior envia uma mensagem forte ao Mundo e apresenta uma nova era pós 11 de Setembro».
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E muitos mais escolhos vão surgir-lhe no mar encapelado que é hoje o Mundo. Mais correctamente, já surgiram, estão a e surgirão. Ganhou as eleições, já sabia que ia ganhar uma enorme dor de cabeça, mas talvez não tivesse a verdadeira dimensão. É uma cefaleia múltipla, é uma hidra de sete cabeças que ninguém sabe até onde, quando e quanto vai renascer. Que o mesmo é dizer – proliferar à enésima potência.
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Tal como milhões e milhões e milhões de humanos espalhados pelo Orbe, emocionei-me com o discurso da tomada de posse, com o realce que deu à responsabilidade, coisa que anda tão em falta, infelizmente. O destaque dado pela comunicação social a nível mundial ao novo inquilino da White House parece-me pois e para já inteiramente merecido. Veremos como as coisas vão decorrer. Fica no ar o benefício da dúvida.
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Por cá, fiou mais fino. As manchetes de ontem explodiam sobre as «visitas» policiais a tudo que são instalações e casa de um tio do primeiro-ministro. E a televisão fez disso a abertura dos noticiários. As diligências verificaram-se a pedido das autoridades do Reino Unido e reportam-se ao chamado caso Freeport. Com as minudências mais completas, deram aos cidadãos motivos mais do que suficientes para lhes preencher as apetências. O pessoal continua a gostar de sangue.
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Bem pode Sócrates apelar para as autoridades que se ocupam do assunto, pedindo-lhes que dêem a maior rapidez à questão. Bem pode sublinhar que o caso de Alcochete já fora levantado aquando da campanha em que ganhou as eleições por maioria absoluta, o que o levou a São Bento. Bem pode comparar com o que está a acontecer num ano carregado de votações. Debalde.
Realmente, somos, nós os Portugueses, uns tipos muito especiais. Adoramos suspeitar, no mínimo, dos que nos tentam governar. Se um sujeito está no poder, não interessa que diga que fez isto ou aquilo – é propaganda. Muito menos que anuncie o que pretende fazer se ali se mantiver – porque é mentira.
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Siga, portanto, esta marcha antecipada aos Santos Populares. Cada um tem o que merece. Os norte-americanos têm Barak Obama. Nós temos a barraca do Freeport.
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Acrescentado às 16h50m:

Inquiridor ou inquisidor?

Tenho por certo que Ricardo Costa, (o Director de Informação da SICA, pois há tantos) que não pertenceu à PIDE, muito menos à Santa Inquisição. O tempo prega destas partidas: o seu decurso é inexorável, dia após, ano após ano. Não se pode suspender a contagem dele, muito menos voltar atrás.
Quando, hoje de manhã, o primeiro-ministro deu uma conferência de imprensa a propósito do famigerado caso do Freeport, a que me refiro no meu texto, RC surgiu logo de imediato nos nossos ecrãs para, alegadamente, tecer comentários às declarações. Peço desculpa. Foram mais perguntas inquisitoriais ou pidescas. Para mim, como é evidente. Sócrates não me pediu, muito menos passou procuração, para escrever estas linhas .
De acordo com Costa falta (a Sócrates?...) explicar muitíssimas coisas sobre a magna questão. Isto é, faltou. Abreviando. Muitas delas, coisas, alegou, não pretendia que fossem da autoria do chefe do Governo. Mas… ele devia esclarecer. Porque estas ligações familiares… Aliás, no entender de Costa, o tema era preocupantíssimo. Não estou a transcrever, mas penso que não estou muito longe do que foi referido. Só faltou que o comentador/inquisidor exigisse ao chefe do Executivo que esclarecesse quem teria sido primeiro o ovo ou a galinha? Ou qual é a marca da sua roupa interior – e medida.
A José Sócrates, no entender do comentador inquiridor, aplica-se o aforismo a propósito da mulher de César. Não o disse, mas podia subentender-se. Eu pude. E se o ditado tem carradas de razão, porque não aplicá-lo numa situação como esta?
Termino. A sanha persecutória de Ricardo Costa contra o primeiro-ministro não se verificou apenas agora. Vi-a, sem rodeios, na entrevista que o governante deu precisamente à SIC, durante a qual o seu Director de Comunicação nem dava azo a que o entrevistado completasse a resposta. Para mim, má educação.
Conheço RC desde que já uns largos anos, era eu Chefe da Redacção do Diário de Notícias, me entrevistou sobre assuntos de comunicação, quando frequentava o IST. Tratava-se de um trabalho para a rádio universitária a que ele pertencia, já não me recordo com que funções. Era diferente do que hoje é. Naturalmente, o decurso do tempo tem as suas consequências. É das regras.

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