sexta-feira, 4 de junho de 2010

A situação está preta

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Por Ferreira Fernandes

AS AGÊNCIAS de notação financeiras com aquele ar grave que põem para baixar notas acabam de dizer que vêem a BP numa "perspectiva negativa". A sério? As ratazanas do rating chegaram lá mais lentas que os pelicanos (e, estes, de asas coladas e patas presas na maré negra do golfo de México). A Fitch e a Moody's baixaram a BP do "AA+" para "AA". Agora que corre tanta tinta negra é que lhes deu para diminuírem os caracteres.

As autoridades americanas estenderam a primeira factura: 69 milhões de dólares. Que pode chegar a 20 mil milhões. Mas até esses números são tragáveis comparados à cara dos responsáveis da BP quando sobem a uma plataforma e se lhe estende um microfone. Ter uma branca é a expressão que se dá a quem nada lhe ocorre e tem mesmo de dar uma resposta. Ter uma branca é uma ironia quando se vê o que corre sob a plataforma. Mais preciso foi o patrão da empresa, Tony M. Hayword, falando para o Financial Times: "Não temos os instrumentos necessários na nossa caixa de ferramentas."

A jusante, na garagem, já ouvi mecânicos a dizer isso, tão a montante, à boca do poço de petróleo, nunca. É assustador. E pensar que o anterior patrão, Lord John Brown, queria, ainda há pouco, mudar o nome de British Petroleum para "Beyond Petroleum" (Para lá do Petróleo)... Mas, para arroubos líricos nas petrolíferas, nada melhor do que um susto real.

«DN» de 4 Jun 10