sexta-feira, 18 de junho de 2010

Escolhas

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Por João Paulo Guerra

FALTA DIMENSÃO ética nas escolhas políticas, sentenciou D. José Policarpo. E a sentença é tanto mais incómoda quanto o Patriarca de Lisboa é uma pessoa serena e cordata, dialogante e de grande elevação intelectual, e não propriamente um fundamentalista que ande a pregar dos púlpitos a cruzada contra os infiéis e os hereges.

E o que mais poderá incomodar a classe política na avaliação do Cardeal é que ele tem toda a razão. As escolhas políticas perderam toda a dimensão ética porque os políticos em geral perderam todo o respeito pela palavra dada.

D. José tem um caso concreto que eventualmente inspirará a sua apreciação mas teve o cuidado de não o referir para que não se diga que anda a promover uma qualquer candidatura política da Igreja. E o caso concreto é a falta de ética de uma decisão recente do chefe de Estado que promulgou uma lei que disse repudiar. Só o eleitor mais parolo não terá entendido a intenção de agradar a gregos e troianos quando se aproxima uma eleição presidência, à margem de princípios, de valores e de uma ética na política. E isto é susceptível de ferir os sentimentos de um homem da Igreja, não porque tenha a moral como um sistema de dogmas, mas porque tem a ética como uma inquestionável questão de conduta.

Simultaneamente, e sem qualquer relação com as palavras de D. José que não seja a prática de pensar e de expressar o pensamento em voz alta, 100 mulheres católicas portuguesas manifestaram-se "desiludidas" com Cavaco Silva e inquietas com um tempo em que "os valores parecem tornar-se absurdos, em muitos casos alvos a abater".

Cavaco Silva colocou uma questão de "escolhas" num cenário eleitoral que aparentemente se apresentava estabilizado. Mas, como dizia o Amigo Banana, as "iludências aparudem".
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«DE» de 18 Jun 10