quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tripeça

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Por João Paulo Guerra

A DIRECÇÃO DO PSD fez saber que “conta com o CDS”. Assim como o país já sabe que o PS conta com o PSD.

De maneira que temos assim um "centrão" em versão ‘big Mac', ainda mais à direita, a apropinquar-se para comandar um país de maioria sociológica à esquerda. As aproximações entre PS e PSD e deste com o CDS não são coligações formais. Mas as coisas funcionam nestes termos: o PS precisa do PSD para fazer passar algumas das medidas mais gravosas das sucessivas austeridades; o PSD faz o jeito e até agradece que o PS carregue com o ónus das medidas mais impopulares e do trabalho sujo; mas como não quer ficar refém do PS, o PSD faz tagatés ao CDS, pressionando assim o partido do Governo; e o CDS inclui algumas das suas obsessões na agenda do PSD e, por conseguinte, do PS e do Governo.

No entanto, depois de tudo isto, constitui suprema ironia que a punição que o PS irá quase pela certa sofrer nas urnas, na primeira oportunidade, reverta a favor da direita. Mas isso, já Mário Soares chegou a responsabilizar os partidos social-democratas e trabalhistas que seguem políticas de direita por se constituírem nos grandes responsáveis pela viragem ainda mais à direita dos eleitorados nas democracias parlamentares europeias.

Seja como for, o Governo PS de minoria acaba por ter uma base de apoio em forma de tripé, o que sempre dá mais alguma estabilidade sob o ponto de vista aritmético. Porque sob o ponto de vista da estabilidade política ninguém se recordará de qualquer contribuição do CDS para tal desiderato. O que toda a gente se recordará é que o CDS fez cair o Governo PS/CDS e o da AD e só não deitou abaixo os de Barroso e de Santana porque não lhe deram tempo. Mas bem tentou. E aí está a democracia modelo tripé e a cair da tripeça.
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«DE» de 30 Jun 10