segunda-feira, 28 de junho de 2010

Milionários

.
Por João Paulo Guerra

O NONO PAÍS mais pobre da União Europeia ganhou 600 novos milionários em plena crise, apesar da crise, contra a crise e através da crise.

Razão tem o ministro da Economia quando diz que "Portugal tem um nível excessivamente elevado de desigualdades". O país em que cerca de 40% da população admite que todos os meses vive "uma luta constante" para conseguir pagar as suas dívidas, tem 600 novos sócios do clube do milhão ou mais. O facto é tanto mais surpreendente quanto o mesmo estudo que revela o crescimento de 5,5% do número de milionários e o aumento do valor das fortunas confirma, no mesmo espaço de um ano, de 2008 para 2009, que a produção industrial se reduziu e as exportações caíram. Portanto, os 600 novos milionários terão recebido heranças de inesperadas tias alegadamente ricas, terão sido bafejados por algum concurso televisivo, pela Santa Casa ou pelo Santo Espírito, ou ainda por uma carta da Nigéria.

Com este crescimento, Portugal passou a casa dos 11 mil milionários, o que é um feito notável por parte de um país tão pobre. Ora para uma população de 10 milhões, 40% dos quais em aflições - isto é, 4 milhões - ter 11.400 milionários diz algumas coisas. Diz, por exemplo, que por cada lote de 351 portugueses aflitos há um milionário, o que certamente será motivo de orgulho e atenuará o desconforto das aflições. Infelizmente, como em outros sectores da vida portuguesa, não se pratica uma política de proximidade que permita a cada aflito ou grupo de aflitos saberem quem é o respectivo milionário para nele se inspirarem.

Todas estas questões têm leituras diversas. À luz das Escrituras, o que se passa é que 11.400 portugueses mais dificilmente entrarão no Reino dos Céus do que um camelo passará pelo fundo de uma agulha.
.
«DE» de 28 Jun 10