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Por Maria Filomena Mónica
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QUEM PENSE QUE O DR. LUÍS FILIPE MENEZES se referia ao Dr. Balsemão, ao Dr. Pacheco Pereira ou ao Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, quando, a 18 de Fevereiro de 1995, designou os «sulistas, elitistas e liberais» como os seus principais inimigos, engana-se. A fálica flecha era-me dirigida: aquelas características – que eu tomo como virtudes e ele como defeitos – aplicam-se-me que nem uma luva. Não sou do PSD, mas no estado em que os cadernos eleitorais se encontram – e provavelmente sempre se encontraram – ele não tinha forma de o saber.
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Como quem não se sente não é filho de boa gente, passei a seguir a sua carreira com atenção. Na Sexta-Feira de madrugada, quando soube os resultados da guerra interna do PSD – ou antes os pseudo-resultados uma vez que ninguém sabe quem foi metido ou riscado das listas – a sua vitória não me espantou. Como o nome indica, nada é mais popular do que o populismo. Felizmente que não penso que o homenzinho de Gaia chegue ao poder: o que conseguiu foi enterrar o PSD.
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Lembrei-me então de um empreendimento por ele prometido antes de férias: um novo cemitério. Após ter constatado que os vinte e quatro cemitérios existentes em Gaia estavam a abarrotar, pôs a concurso público a concepção e gestão de outro, o qual albergaria quarenta e uma mil sepulturas, contando com dois fornos crematórios, uma igreja aberta a todos os credos e um parque de estacionamento, num investimento ascendendo a 20 milhões de euros. Logo houve quem – as agências funerárias – questionasse a decisão, com base no favoritismo da autarquia por uma multinacional. Imaginei que a privatização da morte provocasse uma fúria, mas, pelos vistos, os ecos da revolução da «Maria da Fonte» esfumaram-se. Verificou-se, é certo, alguma agitação, mas esta foi provocada pela hipótese de serem os espanhóis a lucrar com o negócio. Por fim, sabemos tudo: é em Gaia que o líder do novo partido, evidentemente nortenho, anti-liberal e anti-elitista, pensa enterrar o PSD: requiescat in pace.
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Outubro de 2007