segunda-feira, 16 de março de 2009

Dito & Feito

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Por José António Lima
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COMO É QUE Manuel Alegre se pode sentir de bem com a sua consciência ao manter-se num partido com o qual está em frontal divergência, exigindo «a revogação do Código laboral, a suspensão do modelo de avaliação dos professores, a abolição das taxas moderadoras, serviços públicos sem a lógica de parcerias público-privadas»? Afinal, o que lhe resta como base de acordo com o Governo e o PS: a distribuição de ‘Magalhães’ às criancinhas, os casamentos de homossexuais, a cor da bandeira do partido?
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E como é que Alegre pode afirmar que «não ia entrar na mercearia de disputar» o lugar de presidente do Parlamento a Jaime Gama, mas se dispõe a que um entendimento com Sócrates se traduza na colocação de uns tantos deputados alegristas em lugares elegíveis nas listas do PS? «Em reconhecimento do espaço próprio que eu represento», explica, para justificar essas contas de mercearia.
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COMO é que o PS diz, pela autorizada voz de António Costa, que o Bloco de Esquerda, força política com a qual Manuel Alegre tem andado festivamente de braço dado em fóruns e outras tertúlias anti-Governo, «é um partido oportunista que parasita a desgraça alheia e incapaz de assumir responsabilidades» e, ao mesmo tempo e pela voz do mesmo António Costa, nos quer convencer que «a casa de Manuel Alegre, a família dele é a família do PS»? De que lado ficam, então, os parasitas?
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E como é que José Sócrates estende a mão para um entendimento nas listas do PS a alguém que, a cada entrevista, arrasa todas as bandeiras políticas e, uma a uma, as reformas do seu Governo? Alguém que anda em alegre campanha com «oportunistas» e «parasitas da desgraça»?
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ALEGRE precisa do PS de Sócrates para o seu desígnio de ter uma votação histórica, como candidato unificador de toda a esquerda, nas presidenciais de 2011. E Sócrates precisa de Alegre para evitar um rombo eleitoral ainda maior à esquerda e manter acesa a trémula chama de uma nova maioria absoluta.
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Mas, ao ponto a que o confronto e as divergências chegaram, a insinuada promessa de uma união de facto entre ambos tresanda a hipocrisia política. E a uma negociata partidária sem princípios nem valores. Que não dignifica Alegre. Nem Sócrates. Nem o PS.
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«Sol» de 14 de Março de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.