domingo, 22 de março de 2009

Dito & Feito

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Por José António Lima
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JOSÉ SÓCRATES reagiu com pouca ponderação e ainda menor inteligência à manifestação da CGTP da passada semana. «O número não me impressiona», disparou o primeiro-ministro quando confrontado com a mobilização de 200 mil manifestantes nas ruas de Lisboa. Ora, 200 mil é muito manifestante (e, pior, muito eleitor). É um número que não só impressiona como causa, até, alguma estranheza. Quem os contou? Com 20 em cada fileira, contabilizaram 10 mil fileiras, uma a uma? Foi apenas a CGTP que os contou? E os dados da organização passam a verdade oficial em todos os jornais e televisões? E como estavam mais do que os 120 mil professores de Novembro se pareciam menos? Mistérios.
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Sócrates, no entanto, não se prendeu com os números, pois estava mais interessado em lamentar que estas manifestações «sejam sempre instrumentalizadas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda». Não está mal como argumento para quem, logo a seguir, foi celebrar as virtudes do PS e do seu Governo com sindicalistas da UGT...
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Mas a reacção sanguínea e imponderada do irritadiço José Sócrates à manifestação (que fizera dele o principal alvo, em coloridos cartazes e divertidas caricaturas) foi quanto bastou para suscitar reprimendas de peso.
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Manuel Alegre veio exigir «coragem para se saber de que lado se está do ponto de vista das lutas sociais», «coragem para corrigir políticas e comportamentos que contradizem o que foi prometido».
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Mário Soares não se coibiu de constatar que a manifestação da CGTP «impressionou pelo seu volume e pela indignação que foi demonstrada pelas pessoas, foi um sinal de grande descontentamento». E deixou um aviso a Sócrates: «Faria bem em dialogar e ouvir, em vez de entrar em polémicas sobre uma manifestação».
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Alegre e Soares – a mesma luta. Quem diria? António Costa preconizava, há dias, como estratégia para as legislativas, que «o ideal era uma coligação entre o PS e o Manuel Alegre». O melhor é começarem já a pensar em mais outra coligação. Com Mário Soares. Será uma espécie de reedição da velha Frente Popular, à moda do PS.

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«Sol» de 21 de Março de 2009

NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.