quarta-feira, 27 de outubro de 2010

'Hay Presidente? Soy a favor!'

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Por Ferreira Fernades

MEDIDA sábia em dia em que só se lhe pedia o anúncio da candidatura: Cavaco Silva deu ordens à sua campanha para que os gastos não ultrapassem metade do tecto que a lei impõe. Duplamente sábia, aliás. Caem sempre bem, e agora mais, os anúncios de cortes nas próprias despesas. E, depois, o Presidente Cavaco pode cortar na propaganda sem ser imprudente. No Palácio de Belém os contratos de arrendamento são sempre por dez anos. Eanes entrou em 1976, saiu em 86, Soares, 1986-96, Sampaio, 1996-2006, logo, Cavaco, que entrou em 2006, sabe que 2011 são favas contadas.
Os nossos quinquénios presidenciais são como os planos quinquenais soviéticos, são números falsos. Os mandatos presidenciais, ao contrário do que diz a Constituição, são de dez anos - com um faz de conta de campanha no meio. Os portugueses têm uma leitura muito peculiar da velha frase anarquista, eles soletram-na assim: "Hay Presidente? Soy a favor." Entre nós, os Presidentes são sempre reeleitos, por isso nas campanhas do meio (as do fim do "primeiro" mandato) há sempre um vazio de concorrentes credíveis. No fim de Soares (1996), Cavaco ousou candidatar-se; no meio de Sampaio (2001), Cavaco cortou-se.
Na verdade, as próximas presidenciais são em 2016. Um corte nas despesas a sério não é gastar, agora, só metade na campanha, seria acabar com a campanha toda e com estas inúteis eleições-intervalo.
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«DN» de 27 Out 10