sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Liberdade

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Por João Paulo Guerra

PORTUGAL DESABOU 10 furos para um 40.º lugar na tabela mundial da liberdade de imprensa elaborada pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Desde que os RSF publicam a sua tabela, em 2004, esta é a cotação mais baixa da liberdade de imprensa em Portugal. E é caso para perguntar o que ganha Portugal com as mentalidades, os comportamentos, os tiques de arrogância e intolerância que determinaram a queda na classificação? Não ganha nada. Só perde num domínio que é pedra-de-toque da democracia e dos direitos humanos.

Os Repórteres Sem Fronteiras não fundamentam a causa do trambolhão que coloca Portugal vizinho da Tanzânia e da Papua Nova Guiné em matéria de liberdade de imprensa. Mas os "casos" do ano, referentes a Portugal em matéria de liberdade de imprensa recenseados pelos RSF são bem claros: o roubo de gravadores de jornalistas da revista Sábado por um deputado do partido do Governo e os processos judiciais contra o jornal Sol, nomeadamente movidos por um ex-representante do Estado na Administração da PT. Ambos os casos foram protagonizados por meteóricas estrelas do partido do Governo, cuja ascensão na escadaria do poder terá sido directamente proporcional ao trambolhão que terão dado na consideração pública.

O que é particularmente preocupante é que a queda da cotação do país na tabela da liberdade de imprensa acompanha a decadência acentuada do nível de vida dos portugueses. O que parece dar razão a quem pensa, diz e escreve que as políticas restritivas, que impõem sempre os mesmos sacrifícios à mesma maioria da população, são inseparáveis da restrição dos direitos e liberdades dos cidadãos. A senhora Merkl, paradigma dos governantes da direita neoliberal à esquerda envergonhada, já explicou o que é que anda por aí no rastro da austeridade.
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«DE» de 22 Out 10