segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Negociações

.
Por João Paulo Guerra

VAI POR AÍ uma certa confusão: quem negoceia a viabilização do Orçamento é o Governo do PS com o PSD. Mas a matéria em negociação diz respeito aos que não têm voto nesta matéria: os portugueses que vão ser espoliados de direitos e condições de vida mais dignas. Com isto não se contesta a legitimidade democrática dos partidos para formarem governos e constituírem-se oposições. Mas os partidos, como o nome indica, são uma parte. E o todo é que sofre.

De maneira que para os partidos o regateio do voto para o Orçamento pode situar-se ao nível da taxa do IVA sobre o leite achocolatado, como outrora se situou na aprovação de uma fábrica de queijo. À mesa das negociações, os partidos defendem os respectivos interesses de poder e vendem-se por bagatelas. Entretanto, a matéria negociada corta nos salários, nas pensões e abonos, suprime subsídios, aumenta impostos, faz um inferno da vida das pessoas concretas que, bem vistas as coisas, são quem paga as contas.

Ou seja: os portugueses em geral trabalham, recebem, consomem, pagam impostos, alimentam o mercado interno e a máquina do Estado. Os partidos formam governos, governam ou desgovernam. E em caso de desgoverno são os próprios partidos que estabelecem as penas a que os cidadãos vão ser condenados pelos resultados das más políticas governativas. E o cidadão não tem recurso? Tem. O recurso é a alternância dos últimos 35 anos por parte de três partidos que já formaram todas as combinações possíveis para dirigir a máquina do Estado, com os resultados que estão à vista.

Nos momentos de grandes decisões é que se vê o fosso entre governantes e governados. Governantes são aqueles que posam para a fotografia, sorridentes, enquanto trocam chalaças sobre o IVA no leite achocolatado
.
«DE» de 25 Out 10