quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dito & Feito

_
Por José António Lima
-
À MEDIDA que o ano 2009 avança, o retrato da crise em Portugal vai-se definindo com números cada dia mais negros: o desemprego pode atingir os 9,6% no final do ano e subir a 600 mil trabalhadores sem emprego em 2010, o défice público vai disparar para uns impensáveis e preocupantes 6% do PIB, arrasando o esforço de contenção dos últimos 4 ou 5 anos, a economia recua para menos 4,1% (Vítor Constâncio ainda tentou dourar a pílula, mas o FMI não deixou...).
E o Orçamento do Estado que o Governo aprovou para 2009 é já um exercício de pura ficção. O Executivo socialista previa no OE, por exemplo, uma quebra de receitas de 1,5 mil milhões de euros e já perdeu 955 milhões só nos primeiros três meses do ano. Apesar desse desajustamento, o ministro das Finanças acusa os que o criticam de «excitação e nervosismo», enquanto garante que a despesa e a receita no OE estão «perfeitamente controladas». Surrealista.
-
MUHAMED al-Sahaf, lembram-se? O delirante ministro da Informação de Saddam Hussein que assegurava, à beira do desastre: «Posso dizer, e sou responsável pelo que estou a dizer, que os soldados americanos começam a suicidar-se às portas de Bagdade». Que garantia, em tom alucinado: «Têmo-los cercados nos seus tanques», «Já os repelimos», «Temos o controlo total da situação». E que, já a verem-se em cenário de fundo as tropas dos EUA nas ruas da capital iraquiana, jurava com o seu ar lunático: «Dou-vos triplamente a garantia de que não há soldados americanos em Bagdade».
-
Teixeira dos Santos afiança, com idêntico autismo, que mantém o controlo total da execução do Orçamento. A cobrança de IRC cai 150 milhões de euros em três meses? As receitas do IVA desabam mais de 700 milhões aos pés do ministro? O imposto automóvel regista um desmoronamento de 25% e o imposto sobre combustíveis é amputado em 14%? O responsável das Finanças não se deixa perturbar e assevera: «No que respeita ao Governo, a receita fiscal também está controlada» e «não há qualquer derrapagem na receita, tendo em conta os estabilizadores automáticos». O extravagante ministro da Propaganda de Saddam não diria melhor.
-
Houve, neste trimestre, um aumento da despesa de 54,4 milhões de euros (mais 13,8%) com os subsídios de desemprego? O ministro das Finanças não se sobressalta: «A despesa está perfeitamente controlada. O Governo está a gastar onde planeou gastar». A sério?
-
Teixeira dos Santos está a converter-se, rapidamente, no Muhamed al-Sahaf da política portuguesa.
-
«Sol» de 24 de Abril de 2009
.
NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.