segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Era "roberto" não era "roberto"

.
Por Ferreira Fernandes

ANTÓNIO-Pedro de Vasconcelos tem uma fé no benfiquismo que eu gostaria de ter. E não é que ele é que tem razão?! Quando o guarda-redes Roberto andava nos relvados da amargura, o cineasta foi sábio: "Ele é tão mau, que não pode ser verdade. Então, não é verdade." E não é que se comprovou? A campanha anti-robertista primária tendo feito mossa, o treinador foi obrigado a ceder: pôs o segundo guarda-redes mais caro da história do futebol mundial no banquinho. Mas Jesus põe e Deus dispõe (copio da manchete de A Bola, outra crente sem falhas). Ao minuto tal, o guarda-redes que o substituía fez penálti e foi expulso. Lá voltou Roberto ao seu posto. Parecia sina: saiu porque deixava entrar golos e regressava para encaixar mais um. Homens de pouca fé! A bola para um lado, Roberto para o mesmo, Roberto imparável, a bola parável. E foi assim que Roberto ressuscitou ao minuto 23.º, depois de ter sido exibido como imprestável suplente. Ou muito me engano ou as bancadas da Luz vão ver nisto um sinal do Além, por onde andam as águias... Mais terra-a-terra, acho só que metemos os pés pelas mãos em regionalismos. O que pensávamos ser um "roberto", um madraço (no Alentejo), era na verdade um "roberto", um travesso (nos Açores). Roberto aplicou-nos o truque mais velho do mundo: baixou-nos as expectativas e, estando nós acabrunhados, bastou-lhe ser normal para parecer fantástico.
.
«DN» de 30 Ago 10