quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os últimos

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Por João Duque

O JORNAL Público publicitou recentemente que, de acordo com a previsão do FMI, Portugal ocupará, em 2015, a pior posição dos últimos 25 anos no ‘ranking’ mundial do PIB per capita.

Apesar do PIB de Portugal ter subido acentuadamente no período, distancia-se cada vez mais do topo da lista e irá ser ultrapassado por vários países, até da União Europeia.

Para muitos isso será um transtorno, uma aflição, uma angústia... Para outros esse é o destino. Para alguns, esse é o desígnio e o objectivo... Ora vejamos.

Essa coisa de ser o primeiro é importante para muitos, mas para alguns o importante é mesmo ser o último. Já diz o povo que os últimos são os primeiros e esse parece ser o que muitos tentam fazer de nós: os últimos. E há vantagens em ser o último!

O último é sempre um lugar distinto. Os portugueses adoram ser os últimos a chegar a uma reunião. Se forem os terceiros ou quartos a chegar a uma reunião de 20, não dão nas vistas, ninguém os cita, ninguém sabe em que lugares chegaram. Mas, se forem os últimos, especialmente bem atrasados, todos se lembram deles... O último é único. O último é chique!

Se formos os últimos da UE o orçamento de redistribuição em apoio das regiões mais carenciadas está assegurado. Quem não for o último arrisca-se a cortes e restrições. Mas os fundos europeus sempre darão suporte ao pior, ao mais pobre, que terá sempre apoio garantido!

Ser o último tira-nos da competição, da inveja do ganho desenfreado e projecta-nos mais no âmbito dos "deserdados". Se fossem todos pobres em Portugal, a fiscalidade seria mais fácil, a carga fiscal seria muito menor, o Estado mais leve, e todos viveríamos mais felizes. Todos receberíamos o subsídio mínimo garantido, ninguém tinha de preencher a declaração de IRS, nenhuma empresa seria lucrativa (porque ter lucros é sinal de ganância e exploração de terceiros!) e nenhuma pagaria IRC. Até o IVA seria reduzido ao mínimo porque as transacções quase se limitariam às operações sobre artigos sujeitos às taxas de 6% e 12%...

Por último, o que é que ganha qualquer cidadão em que o seu país seja o primeiro? Ganha medalhas? Ganha prémios? Ganha dinheiro? Claro que não! O primeiro paga impostos que vai dividir pelos últimos e esse não será o nosso desígnio! Isso não! Ou querem ser como os alemães sempre a serem martirizados com impostos que redistribuem pelos mais pobres, com empréstimos diários aos mais necessitados ou, acima de tudo, com o tino constantemente nos outros e na forma de os manter alinhados e em dia nas suas contas, nas suas despesas e nas suas actividades? Já bem basta termos de pensar em nós!

Por isso, ser o último, pode ser um desígnio tão legítimo e desejado como qualquer outro, devendo continuarmos a fazer tudo para o conseguirmos muito para além de 2015. A crítica reside no facto de o não estarmos a fazer à velocidade ideal para o alcançarmos... Governantes deste país: o país pede-vos mais atenção e empenho!
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«DE» de 26 Ago 10