domingo, 8 de agosto de 2010

Sucesso incrível de exportação lusa

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Por Ferreira Fernandes

EM NOVEMBRO de 2001, capa da revista brasileira Veja: "Falar e escrever, eis a questão." Esta semana, 451 capas depois, Veja volta à carga: "Português: falar bem é vital."
Lembro aos distraídos: a revista Veja não é o Jornal de Letras lá do sítio, vende mais de um milhão de exemplares. É como as nossas Sábado e Visão, sim, também fala de lipoaspirações (foi capa na semana passada) mas, semana vai, não vai, farta-se de regar aquilo que é o seu ganha-pão. Isso, o português. E não é mania dessa revista só. O "professor Pasquale" é personalidade nacional por aquilo que ensina nas colunas da Folha de São Paulo e de O Globo, rádios e televisões. Ele nasceu numa impronunciável Guaratinguetá e é filho de italianos, mas o assunto que o tornou famoso, já adivinharam, é o português.
Agora que os negócios Portugal-Brasil saltaram para as manchetes, apetece perguntar por esse produto primacial da relação. Na língua, quem deve a quem? Os portugueses devem cobrar juros por terem cedido o português? Ou os portugueses têm de pagar salário a quem tão bem cuida da menina dos seus olhos? Porque recriava a língua, Rubem Braga dizia: "Confesso, escrevo de palpite." Estava a fugir aos juros, sugerindo que a língua portuguesa ele não a contratou, era ele. Eu também fujo de pagar à Veja pelo orgulho que me dão aquelas capas.
Este é um raro negócio com dois lados a ganhar muito.
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«DN» de 8 Ago 10