sábado, 28 de agosto de 2010

Limas & Lima

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Por Antunes Ferreira

HÁ UMA ANEDOTA velhinha que mete dois corcundas amigos. Todos os dias juntavam-se para almoçar. E um dia, o primeiro contou ao segundo que vira um anúncio num jornal: «Tiram-se marrecas com limão». E acrescentou que, no dia seguinte, iria à morada indicada para se sujeitar ao tratamento. O segundo olhou-o de alto a baixo e perguntou-lhe se ainda acreditava no Pai Natal. As coisas ficaram assim.

No outro dia, quando se encontraram no restaurante, o segundo quase caiu de pasmo. O primeiro estava direitíssimo, de fato novo, sem qualquer vestígio da bossa, sorridente, impecável, feliz. O ainda marreco não se conteve: ó pá, mas que maravilha! E foi mesmo com limão? E a resposta veio, imediata e concisa, mas um tanto desdenhosa: foi; se calhar, querias que fosse com uma lima de unhas…

A estória veio-me à memória por associação de ideias por as limas têm andado na berra nestes últimos tempos, como, certamente, já se deram nota. Isto porque também as notas também têm abundado. Charada? Trocadilhos? Ora então, vamos por partes. No Brasil, a Senhora Dona Rosalima, perdão, Rosalina Ribeiro foi assassinada. O que, no país irmão é bastante frequente, se bem que com diferentes vítimas. O assassinato, obviamente.

O busílis é que a referida Senhora era a companheira do Senhor Lúcio Tomé Feteira, multimilionário e antigo proprietário da maior fábrica de limas em Portugal, que se auto-exilara no lado de lá do Atlântico e tudo o que rodeava o caso – e continua a rodear e, pelos vistos, continuará. O rocambolesco enredo faz parte de uma nebulosa mais densa do que a Via Láctea. Abreviando: o quiproquó mete a herança do empresário, cuja fortuna tinha muitos zeros à direita, e em particular uma verba de cinco milhões de euros, uma ninharia, que se volatilizaram, sabe-se lá por que bulas.

Aqui entra o causídico e antigo deputado do PSD, Duarte Lima. Que era o advogado da Senhora Dona Rosalina e terá sido o último cidadão a vê-la viva, para além, naturalmente do assassino e, de acordo com o jurista, uma tal Gisele, com quem a vítima se terá encontrado em Maricá, onde se deslocou no automóvel do próprio advogado. Que é a única pessoa que diz ter visto essa dama.
Seguem-se episódios, entre o caricato e o freudiano, que davam para umas dez telenovelas de produção luso-brasileira – ou mais. De acordo com a filha do milionário, Olímpia Feteira, o dinheiro terá sido transferido da conta dele na Suíça para Duarte Lima. José Miguel Júdice, seu antigo compagnon de route partidária e advogado desta última, declarou ao jornal «i informação» que “se Duarte Lima quiser que a sua implicação no caso fique clara, então que entregue o dinheiro”.

Condimentos não faltam nesta caldeirada, cujo último episódio, no momento em que escrevo este texto, é a declaração de Duarte Lima, ante ontem, durante a «Grande Entrevista» na RTP, que depois de a polícia brasileira ter afirmado que não é suspeito do crime, está agora a ser vítima de uma "mão misteriosa" que anda a lançar notícias na imprensa ao estilo de "policial negro" para o "aniquilar"; mas não esclareceu a quem pertencia essa "mão misteriosa".

Tal como antigamente na televisão aparecia uma legenda calina, o programa segue dentro de momentos. Com cenas dos próximos capítulos? Quem sabe?