quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

E de Alegre se fez triste a leda madrugada

.
Por Pedro Barroso


E POR MAIS cinco anos, crispado Silva viverá seu esgar altivo de glória financeira mal explicada... eleito por 1/4 dos eleitores nacionais!
Percebesteis? Vamos lá a ver. Então eu explico melhor o que sinto.

A democracia vale pela expressão do voto. Claro. Que, por sua vez, reflecte um sentimento perante a conjuntura actual e a sensibilidade popular aos candidatos, suas propostas, ideias e as eventuais mudanças que signifiquem.

Nesta conjuntura, apesar das acusações que ficam por explicar – e todos aguardamos que isso aconteça...- Cavaco é legitimamente eleito, sem espinhas. Nem outra coisa eu esperava, sinceramente.
Mas as pessoas que não saíram a voto são metade dos portugueses. E trezentas mil ainda votaram branco ou nulo.

Não gosto de abstenção, nem me revejo nela; tal como duvido da eficácia politica do voto branco ou nulo.
Mas sinto que isso significa o descrédito duma classe politica que tem os mesmos protagonistas há quase 40 anos. Um cansaço.

Alegre, curiosamente tal como se sentia ab initio, foi prejudicado - na 1ª vez por não ter o PS consigo; e desta vez por ter o PS consigo.
Porque há cansaço deste PS. Autismo mesmo, face à revolta montante do povo e ao paleio cansativo dos "tais sacrifícios" eternos. Sem dar exemplo.

Alegre perde por, como eu próprio lho disse, ninguém poder querer ser e não ser ao mesmo tempo. Devia reformar-se e pronto. Cumpriu o seu papel. É um histórico, fica histórico. Ninguém lhe roubará o "canto e as armas" nem o seu lugar de qualidade na "praça da canção". Para mim, já deitara tudo a perder quando teve um milhão e cinquenta mil votos e fundou uma coisa que não era partido, nem ninguém percebeu muito bem o que fosse. Chamada MIC, ainda por cima; nome a meio caminho entre a esferográfica barata e a sempre indesejável micose.

Procurar eludir o espantástico de uma união entre o BE e o PS actual, é também uma forma de se reformar da análise politica por sério problema de dioptrias. Este PS contem em si o toque de Midas, só que ao contrário - tudo o que toque definha, empobrece e desaparece.

Nobre revelou que ser outsider compensa; mas ficou com uma vitória "moral". Vale o que vale. E a falar em público falta-lhe alma, audácia, panache, fascínio, grito, ardor, não sei... Se o homem fosse artista e tivesse à sua frente público para seduzir, o pessoal adormecia.

Ganhou humanidade e força com o andamento da campanha. No fim... estava pronto a começar. Mas é obviamente um vencedor.

O discurso-revolta tipo motorista de táxi cristaliza no Coelho. Mas atenção nele. O homem fala como o povo na rua entende; e tem muito mais valor do que aparentava. Deram-lhe o estatuto de indigente mental e acabou como um dos grandes vencedores da noite. E ganhar no Funchal ao Jardim não é para todos.

O Dr. Moura deu a descasca que se tinha proposto dar no Aníbal e nela se cumpriu. Nada mais o pareceu interessar muito e ressentiu-se disso.

Digno, discreto, omisso. Esteve lá? Valeu a pena?

O Lopes é o candidato do PC e levou 7%. Tudo normal. Viva o PCP, punho erguido, avante camaradas, e etc etc. "Fixou eleitorado, confirmou alternativa, dignificou os democratas" etc.

Já sabemos todos. Viva. Chega.

Conclusão:
Cavaco ganha bem; porque, de certo modo, não havia alternativas.

Cavaco ganha mal; porque, na realidade, perde meio milhão.

E porque nunca nenhum "já Presidente" foi reeleito por tão pouca margem.

Já agora, para ficarmos todos amigos, convinha agora que nos explicasse os 140%, a casa de luxo de cuja escritura não se lembra, e as amizades sujas que o estornicam cada vez que se mexe no BPN.