Por João Paulo Guerra
UM DIA DESTES dei por mim a tropeçar numa frase na leitura de uma notícia de jornal. Dizia assim: "os partidos da oposição, com excepção do PSD...". Mas espera... O PSD é da oposição? O caso concreto era que a oposição de esquerda, Bloco e PCP, e de direita, CDS, queria saber as razões da mudança nos métodos da Estatística numa altura em que se espera aumento do desemprego. O PSD não queria saber coisa alguma, nem a respeito de estatísticas, como em relação ao que for que o Governo decida. A verdade é que o Governo decide, o PSD aprova e o chefe de Estado promulga. O barco da governação tem uma tripulação tripartida e só não se sabe ao certo quem será o verdadeiro homem do leme.
Quanto ao PSD, depois das farroncas com que a direcção assumiu funções - rever a Constituição, acabar com a justa causa para despedimentos, ameaças de chumbo do Orçamento - reviu em baixa as expectativas e amodorrou-se à lareira do poder: acordou com o Governo o aumento de impostos, liquidou o inquérito da Comissão Parlamentar ao caso PT/TVI, opôs-se à greve geral, deixou passar o Orçamento, etc., etc.
De maneira que se isto fosse oposição, não haveria razões para o Governo do PS ter outras preocupações. A menos que o estatuto de oposição do PSD siga a estrelinha de Belém. Com efeito, o PSD acomodou de algum modo a sua agenda à estratégia de Belém, dando o sim do PSD ao Orçamento do PS mesmo em cima do acontecimento da apresentação da recandidatura de Cavaco Silva. E, deixando para o PS o ónus do trabalho sujo, este PSD ou outro poderá aspirar a constituir uma alternativa de poder executivo pós-presidenciais.
Seja como for, no presente o PSD é uma oposição na gaveta, sendo que todas as malfeitorias do poder têm o seu voto e a sua impressão digital.
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«DE» de 7 Jan 11
UM DIA DESTES dei por mim a tropeçar numa frase na leitura de uma notícia de jornal. Dizia assim: "os partidos da oposição, com excepção do PSD...". Mas espera... O PSD é da oposição? O caso concreto era que a oposição de esquerda, Bloco e PCP, e de direita, CDS, queria saber as razões da mudança nos métodos da Estatística numa altura em que se espera aumento do desemprego. O PSD não queria saber coisa alguma, nem a respeito de estatísticas, como em relação ao que for que o Governo decida. A verdade é que o Governo decide, o PSD aprova e o chefe de Estado promulga. O barco da governação tem uma tripulação tripartida e só não se sabe ao certo quem será o verdadeiro homem do leme.
Quanto ao PSD, depois das farroncas com que a direcção assumiu funções - rever a Constituição, acabar com a justa causa para despedimentos, ameaças de chumbo do Orçamento - reviu em baixa as expectativas e amodorrou-se à lareira do poder: acordou com o Governo o aumento de impostos, liquidou o inquérito da Comissão Parlamentar ao caso PT/TVI, opôs-se à greve geral, deixou passar o Orçamento, etc., etc.
De maneira que se isto fosse oposição, não haveria razões para o Governo do PS ter outras preocupações. A menos que o estatuto de oposição do PSD siga a estrelinha de Belém. Com efeito, o PSD acomodou de algum modo a sua agenda à estratégia de Belém, dando o sim do PSD ao Orçamento do PS mesmo em cima do acontecimento da apresentação da recandidatura de Cavaco Silva. E, deixando para o PS o ónus do trabalho sujo, este PSD ou outro poderá aspirar a constituir uma alternativa de poder executivo pós-presidenciais.
Seja como for, no presente o PSD é uma oposição na gaveta, sendo que todas as malfeitorias do poder têm o seu voto e a sua impressão digital.
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