segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Nevoeiro

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Por João Paulo Guerra

“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer,
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!"


AS MANHÃS de nevoeiro que se abateram sobre parte de Portugal nos últimos dias são propícias a que se evoquem profecias e se alimentem ânsias como a do regresso de D. Sebastião. Não é que os portugueses se dediquem propriamente a ler, analisar e discutir a Mensagem, os mitos pessoanos. Não é nada contra o autor da Mensagem, excelente Pessoa. Os portugueses também não se dedicam propriamente ao estudo da retórica de Vieira, como não percorrem a terra Mátria de Natália, nem sequer se procuram identificar nas Profecias do Bandarra. Excluindo alguns marginais letrados que teimam em ler, pensar, expor ideias, construir teorias, idealizar e partilhar beleza, a actividade intelectual dos portugueses não vai além da Taprobana. Aqui para nós, talvez não chegue mesmo a Cacilhas.

Mas estes nevoeiros, a envolver esta crise e a emoldurar uma melancólica campanha eleitoral, sugerem figuras de Encobertos que - quem sabe? - talvez tenham na mão, ou pelo menos na ideia, a chave do nosso futuro. Ora observando a vida política actual do Portugal do nevoeiro e dos fogos-fátuos - que emanam do metano dos pântanos - dá ideia que alguns ínclitos portugueses já encontraram para lá do nevoeiro o respectivo D. Sebastião. Chama-se FMI. Que, como o outro e como dizia Pessoa, talvez venha ou não.
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«DE» de 17 Jan 11