quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Previsão

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Por João Paulo Guerra

DESDE A CRÓNICA de 1 de Outubro passado, a respeito do PEC III, que escrevo nesta coluna que a austeridade, tal como é pensada e posta em prática pelo Governo, arrastará inevitavelmente o país para a recessão económica, com todas as suas consequências.

E nem sequer estou a gabar-me de qualquer modalidade de presciência. A crónica de 1 de Outubro citava o vaticínio da Ernst & Young sobre o perigo de nova recessão, considerando errado que "a solução em que o Estado pensa sistematicamente" seja a de pedir aos contribuintes que "paguem as suas ineficiências".

Três meses volvidos, vem o Banco de Portugal prever que a austeridade, agravada entretanto para extremos inimagináveis do PEC III para o Orçamento de Estado, irá provocar a maior quebra de sempre do consumo privado em Portugal. E, como se está mesmo a ver, da previsão da queda do consumo privado no abismo à previsão da recessão económica vão só alguns parágrafos no relatório do Banco central. Portanto, só não vê quem não quer ver que são, como se sabe, os piores dos cegos.

O objectivo da austeridade em curso é precisamente a derrocada do consumo privado. O Governo entende que Portugal e os portugueses não merecem mais que o rótulo de um dos países mais pelintras da Europa. As consequências serão a diminuição brutal do nível de vida do comum dos portugueses, falências em cadeia de sectores da produção e comércio, ainda mais desemprego.

Andamos nisto há três décadas, pela mão dos partidos do costume: recessão austeridade, austeridade recessão. A única diferença é que o actual Governo, e os que viabilizam e promulgam as suas políticas, decidiram que desta vez seria muito mais doloroso e até mesmo fatal. Garrett interrogar-se-ia: quantos ricos vão engordar em Portugal à custa de tantos pobres?
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«DE» de 13 Jan 11