quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Safámo-nos! (por enquanto…)

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Por João Duque

O LEILÃO DE ONTEM promovido pela república portuguesa acabou com um final feliz. Não tanto em termos de taxa de custo do dinheiro, mas mais em termos de procura insatisfeita.

Isto mesmo depois de ontem terem sido reveladas as estimativas do Banco de Portugal (BdP) sobre a evolução da economia portuguesa para 2011 e 2012.

E, nessas previsões, o que muda face às últimas que foram libertadas sobre Portugal, isto é, as do Governo?

Em primeiro lugar "o grande número": enquanto o Governo afirmava na publicação do orçamento, e com entusiasmo, uma subida de 0,2% do PIB (eu acho que ficaríamos mais felizes se tivessem anunciado 0,24% o que não mudava grande coisa, mas dava mais alento por estar mais próximo de 0,25% e assim mais próximo de 0,3%, o que já era uma variação de 50% face ao previsto...) o Banco de Portugal vem agora anunciar uma desgraça, isto é, uma recessão com queda do PIB na ordem dos -1,3%.

Em segundo lugar há diferenças (justificadas) nas previsões dos diferentes componentes do Produto.

Para o consumo privado o BdP prevê uma quebra de 2,7% em resultado das medidas restritivas impostas pelo novo Orçamento do Estado, enquanto o Governo estimava apenas uma insignificante descida de 0,5% como se o aumento dos impostos e redução de salários fosse irrelevante... Para o investimento o BdP estima uma quebra de 6,8% enquanto o governo antecipava apenas uma descida de 2,7%. Para as exportações o BdP apenas antecipa uma subida de 5,9% quando o Governo aguarda uma subida de 7,3%. No diferencial entre as exportações e importações o BdP estima 7,8% o Governo delirava com uns expressivos 9%...

Afinal, nesta panóplia de expectativas, apenas para o consumo público se espera uma descida mais acentuada no Governo do que nas previsões do BdP. E isto é realmente bizarro... Se o Governo se compromete a cortar seriamente no consumo público, prevendo em Outubro uma descida de 8,8%, então como entender que o BdP venha agora declarar que só antecipa uma quebra de 4,6%? Significa isso que o BdP não aceita a capacidade e empenhamento do Governo na execução orçamental, ou que o modelo de estimação do Governo neste aspecto não vale um caracol?

Ora, a acreditar na vontade do Governo (mesmo que forçada) para reduzir o consumo público, e se introduzirmos no modelo a sua estimativa, então a minha previsão para quebra do PIB passa logo para -2,1%. E se formos menos optimistas quanto à capacidade de substituição de importações ou do efeito da queda da procura interna nessas importações, a somar ao efeito da quebra do consumo público apontado, então estamos já a falar de quebra do PIB na ordem dos 3,1%.

Isto é, quando ouvi "o grande número" de quebra estimada pelo BdP para o PIB para 2011 o que me passou pela cabeça foi: "Só?" É que já no DE no Outlook para 2011 apontei um número para a queda do PIB: nunca inferior a 1,8%.

Grandes conclusões:

1) atenção, rapaziada da passa, se querem LSD de qualidade experimentem os passadores da zona da Estação de Sul e Sueste;

2) Carlos Costa, quando sair do Banco de Portugal terá de procurar emprego noutro lado se o Partido Socialista ainda estiver no poder...
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«DE» de 15 Jan 11