segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Poeta romano contra barbudos

Por Ferreira Fernandes

NO DIA 4 de Janeiro, Salmaan Taseer, o governador do Punjab, a província mais populosa do Paquistão, foi morto com 27 balas disparadas por um polícia que o protegia. Ontem, Sherhbano Taseer escreveu no New York Times sobre o seu pai: um homem dedicado ao Paquistão tal como este foi fundado por Muhammad Ali Jinnah, em 1947 - um estado secular. Hoje o Paquistão é um Estado minado por terroristas islâmicos como Mumtaz Qadri, o polícia assassino. Mas o fundador Jinnah quis um país em que todos os cidadãos frequentassem os templos ou as mesquitas, ou nenhum, como quisessem. Jinnah foi o primeiro advogado em Londres originário da península indiana e da Inglaterra adoptou convictamente a democracia. Apesar de mumificado num mausoléu e considerado o Pai da Nação, as ideias de Jinnah já não têm muitos adeptos no Paquistão actual. Por isso a sentença estava lavrada contra o seu seguidor, o governador do Punjab que visitava as minorias religiosas quando eram vítimas dos ataques dos fundamentalistas. Por isso o polícia assassino foi recebido com beijos quando chegou ao tribunal. No texto sobre o seu pai, Sherhbano Taseer cita Juvenal: "Quem guardará os próprios guardas?" Citar um poeta latino de há dois mil anos no Paquistão de 2011 não é só uma demonstração de cultura. É uma bela provocação: é afirmação de que o mundo é mais vasto do que querem os barbudos ignorantes.
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«DN» de 10 Jan 11