quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A INTRIGA E A VELHACARIA

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Por Baptista-Bastos
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NO ÚLTIMO DOMINGO, na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ter sido mal interpretado naquilo que dissera, no domingo anterior. E o que dissera, negado agora, constituía a subtil vontade de se candidatar à chefia do PSD. Se há virtude que o famoso professor possui, em abundância, essa é a de jamais, em tempo algum, haver sido "mal interpretado" - a não ser que assim o deseje.
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A verdade é que o sobressalto causado pela "má interpretação" foi suficiente para recomeçar a melancólica aventura dos nomes e os enternecedores movimentos dos apoiantes aos supostos candidatos. São os mesmos. E cada um pior do que o outro.
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O PSD dispõe, certamente, de gente capaz. Não aqueles que a Imprensa calorosamente tem nomeado. Rui Rio? Morais Sarmento? Tantas catástrofes enunciadas! Tantos horrores arrendados numa só hipótese que seja! Mas eles estabelecem um elo entre si: o entendimento abstruso e anacrónico que fazem do mundo e dos portugueses.
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Perante a sombria intriga, chego a ter um estremecido sentimento de compaixão pela dr.ª Manuela Ferreira Leite. Uma gente arquejante de poder e crassamente instigada pelos manobradores do costume vai cercando a senhora, cujas últimas intervenções são reveladoras de uma desorientada mágoa.
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O salomónico "não", com ênfase proferido e repetido por Marcelo Rebelo de Sousa, no último domingo, não aquietou as hostes, antes pelo contrário. O PSD vive da intriga e da fancaria. Marcelo sabe-o melhor do que ninguém.
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No momento. A propósito do falecimento do grande editor Joaquim Figueiredo de Magalhães, o apenas concebível Vasco Pulido Valente escreveu, no Público, um texto mais indigno do que lhe é habitual. Entre omissões, mentiras e pequenas velhacarias, insulta a memória de Augusto Abelaira, intelectual respeitado e admirado, de quem diz ter tido a alcunha de "A Velha". O Vasco PV deveria examinar a gravação das suas intervenções, na TVI, medonha encarnação do apodo que atribui ao grande romancista de A Cidade das Flores. Quanto à revista Almanaque, de que fui redactor a partir de 1962 (vencimento mensal: 800$00), nunca o vi, por exemplo, nas reuniões em casa de João Abel Manta, onde se discutia (Cardoso Pires, Sttau Monteiro, Abelaira, Cutileiro) o tema da revista seguinte. Aliás, nos últimos 40 anos, apenas por quatro ou cinco vezes enxerguei a cara desagradável do cavalheiro - que parece suscitar um temor reverencial, para mim inexplicável, porque o não receio, em nenhuma circunstância ou situação. Desejo, ainda, referir que Augusto Abelaira possuía grande coragem moral e física, o que o levou a enfrentar a PIDE, com rara valentia. Do que nem todos se podem ufanar. Ponto final. Mas voltarei ao assunto, acaso seja chamado à colação.
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«DN» de 3 de Dezembro de 2008