Por João Paulo Guerra
POR IMPERATIVOS europeus, Portugal vai ter dez anos para tirar 450 mil portugueses da situação de pobreza! 45 mil, por ano!
Bem se sabe, desde Almeida Garrett, que são necessários uns quantos pobres para fazer um rico. Mas esta diminuição do número de pobres em Portugal não é caso para entrar em pânico.
Em primeiro lugar porque 450 mil pobres representam apenas um quarto dos portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza. O que quer dizer que vão sobrar imensos pobres em Portugal neste Ano Europeu do Combate à Pobreza. Em segundo lugar porque a caridade pode ser uma excelente oportunidade de negócio, como disse um dia destes em Lisboa o secretário-geral da OCDE. E, em geral, o negócio da caridade passa frequentemente pelo branqueamento de capitais, a fuga ao fisco e outros esquemas fraudulentos sofisticados. Ora tendo em conta que a economia paralela, graças à crise, está a representar quase 20 por cento da riqueza do país, acabar com alguns pobres pode resultar num aumento da quantidade de ricos.
Só é de estranhar é que seja necessário vir a União Europeia com as suas directivas para que Portugal adira, com iniciativas e metas, ao Combate à Pobreza. Portugal é um país que em lugar de criar riqueza faz criação de ricos. E a falta de olho para o negócio da caridade não abona nada a esperteza dos chico-espertos nacionais que nunca desperdiçaram uma oportunidade. Aliás, se não havia oportunidades, os chico-espertos portugueses criavam-nas. E foi assim que Portugal passou a ser uma democracia esquemática: é só esquemas.
A oportunidade de Portugal acabar com um número rateado de pobres é um desafio. Resta saber se em Portugal não será mais fácil fazer passar um camelo pelo fundo de uma agulha (Mateus, capítulo 19, versículo 24).
«DE» de 4 Mar 10