Por Rui Zink
JÁ AQUI TIVE OPORTUNIDADE de explicar que o princípio de “não bater nos mais fracos” não faz qualquer sentido. Porque, se não for nos mais fracos, vamos bater em quem? Pois hoje venho explicar que o abuso de poder é bom. Não digo para os abusados, mas para quem abusa. E daí? Toda a gente diz mal dos abusadores, dos corruptos, mas esquecemos que os abusadores também são gente. E merecem ser acarinhados. Sem condições, sem apoios, claro que é difícil para um português, por mais que se esforce, atingir o nível competitivo de um Madoff, ou mesmo um traficante afegão.
De resto, só quem não tem poder resmunga contra quem beneficia abusivamente desse poder. Eu, por exemplo, detesto dar aulas. Em compensação, a parte do chumbar alunos já acho gira. É a recompensa possível pelas humilhações sofridas a falar para o boneco. Da mesma forma para um “dirigente”, depois do tempo perdido a aturar eleitores durante a campanha, depois de tanto sorriso, tanto beijinho, tanta faneca assassinada, a tomada do poder é como chegar a casa ao fim dum longo dia de trabalho: uma pessoa só quer pôr-se à vontade e relaxar. E untar as mãos com um pouco de mel ou, como dizem os franceses, enfiá-las num “pote de vinho”. Qual é o mal? Mas não, nunca se está descansado, vem logo alguém relinchar que “ser corrupto é feio”. Está bem, feio será. Mas sabe tão bem…
Porque a triste verdade é que o exercício do poder só dá gozo se abusarmos dele. Não o fazermos... é o mesmo que não o ter. Porque estamos apenas (como dissemos em campanha) “ao serviço dos concidadãos”. E, isso sim, é uma seca. Então andei eu a esfalfar-me, a fazer fretes e mais fretes (na Jota ou noutro local igualmente lindo), a fazer contactos, a lamber botas, a bajular chefes, para acabar feito criado a servir os outros? Ná.
«Metro» de 1 Mar 10