sexta-feira, 19 de março de 2010

Eventos

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Por João Paulo Guerra

A AGÊNCIA DE "EVENTOS” – termo detestável muito usado no português técnico – que organizou a apresentação da Estratégia Nacional para a Energia lá veio explicar que a troca do nome de José Sócrates pelo do respectivo boneco no Contra-Informação, José “Trocas-te”, foi “erro humano”. É a explicação mais corriqueira e que nem dá para discutir, pois dizer que errar é humano é constatar o óbvio. Mas no mundo dos "eventos" bastam o óbvio, as banalidades e os lugares comuns.

Os "eventos" vieram plastificar a vida social e política, retirando-lhes qualquer trato humano, calor e espontaneidade: seguem o guião. E como se vê por sucessivas gafes, nem sequer trouxeram profissionalismo e rigor aos acontecimentos. Pelo contrário. Os "eventos" estão para a vida social e política como o "queijo" abatatado está para o queijo amarelo da Serra da Gardunha.

E, como não poderia deixar de ser, o actual Governo aderiu por inteiro aos "eventos", que já deram raia mais que uma vez. Um governante vai aqui ou ali, apresentar isto ou aquilo, e produz-se um "evento". É o circo político a fazer habilidades para embasbacar os espectadores, também chamados utentes, contribuintes e consumidores. E depois acontecem coisas como o primeiro-ministro visitar uma turma escolar, constituída por figurantes de alunos, em tempo de férias. Ou, como outra ocasião, os figurantes serem os minicomputadores, retirados de cena após a saída das câmaras de TV. Ou ainda o primeiro-ministro ser chamado pelo nome da respectiva caricatura.

O Governo, que corta em tudo, não corta na palhaçada dos "eventos", porque o "evento" vive da forma e disfarça a falta de conteúdo. É a modalidade em plástico da política espectáculo. Mas é o que há. "Evente-se" o burro à vontade do dono.

«DE» de 19 Mar 10