domingo, 21 de março de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

«A PENA DE EXPULSÃO do partido», consagrada nos estatutos, é a celeuma político-partidária dos últimos dias. A expulsão poderá ser aplicada «por falta grave, nomeadamente o desrespeito aos princípios programáticos e à linha política do partido». Sendo que «se considera igualmente falta grave a que consiste em integrar ou apoiar expressamente listas contrárias à orientação definida pelos órgãos competentes do partido».

Foi contra este articulado estatutário que Vitalino Canas, em nome do PS, esbaforiu a sua indignação? Afirmando, sem papas na língua, que «estamos perante uma verdadeira ‘lei da rolha’, uma lei estalinista implementada por um partido democrático»? Por acaso, não foi. Porque esta pena de expulsão em resultado de faltas graves, pormenorizadamente descritas no articulado acima transcrito, não é a que foi proposta por Santana Lopes e aprovada pelo Congresso do PSD do passado fim de semana. É, sim, a que há muito consta no artigo 94.º dos estatutos do PS. O que deixa bem patente até onde pode ir a farisaica hipocrisia de Vitalino Canas e da direcção socialista.

O episódio, que encheu páginas de jornais e noticiários televisivos e radiofónicos, suscita quatro observações.

Primeira, a da ligeireza jornalística que embarca em ondas de excitação noticiosa sem cuidar de saber se a ‘novidade’ não está há muito presente no mundo real (e nos estatutos dos outros partidos...).

Segunda, a do oportunismo dos três candidatos à liderança do PSD – Passos Coelho, Paulo Rangel e Aguiar-Branco – que no interior do Congresso não disseram uma palavra contra a alteração estatutária em causa e, à saída, percebendo a onda mediática, juraram a pés juntos estarem contra tal medida. Bom exemplo de liderança...

Terceira, a da insensatez política de Santana Lopes ao copiar, na sua ânsia de ajuste de contas com o passado, as normas estatutárias do PS.

Quarta, a da incomensurável desfaçatez política de Vitalino Canas, de Francisco Assis, do PS em geral, ao criticarem aos outros o que fazem na sua própria casa. Não têm mesmo vergonha na cara. Nem grandes escrúpulos na acção política.
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«SOL» de 19 Mar 10