sábado, 27 de novembro de 2010

Um mágico português – só?

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Por Antunes Ferreira

O MÁGICO Luís de Matos assinou contrato com a cadeia britânica BBC para uma série de cinco programas a serem emitidos em Janeiro do próximo ano. Isto de acordo com a assessoria de imprensa do ilusionista português. Mais se soube que o programa, com o título de «The Magicians» será apresentado pelo britânico Lenny Henry, e Luís de Matos aparecerá ao lado do norte-americano Chris Korn e da dupla britânica Barry & Stuart, contando cada episódio com diversas celebridades britânicas convidadas.

Neste Portugal a fingir, nada mais natural que um mágico da casa se notabilize lá fora. Lá fora é um velho bordão que, se usado frequentemente, se transforma em chavão mais ou menos calino, mais ou menos cabotino. Não admira que numa terra em que uma boa quantidade de gente, nomeadamente com responsabilidades, anda a tentar enganar menos os restantes, um prestidigitador se alcandore a níveis mundiais.

Matos não é um David Cooperfield, não será um Houdini, nem sequer um Dai Vernon. Mas é portuga. E lá diz o Nicolau Bryner no anúncio televisivo, prefira produtos portugueses. De resto, deixem-me que diga que é repetitivo, pois já anteriormente se dizia tal. Mesmo assim, concordo. O difícil é encontrá-los.

Retrocedo até o mago Merlin e continuo à procura ao longo dos séculos de um semelhante a Luís de Matos. Tarefa difícil, pois nisto de ludibriar o próximo somos dos melhores. Socorro-me da banda desenhada: o Mandrake e o seu ajudante Lotar, a Maga Patalógika, a Madame Min são de outras estórias, doutros quadradinhos, não podem entrar nestas comparações.

Fico-me, então pelo panorama da magia da actualidade, do ilusionismo da crise, dos passes dos políticos que tiram os coelhos das cartolas; no caso, é mais o Coelho e são passos, com o, sem e. Neste espectáculo circense quotidiano, o que não falta, por conseguinte, são os ilusionistas. E os mentirosos, com o pedido de perdão aos magos. Mas, não nos esqueçamos de que mentir é enganar. Daí que tenhamos parido o rifão com a verdade me enganas.

O OE 2011? Um presságio? Nada disso: uma fatalidade mágica. Porém, no contexto dos dias de hoje, a aprovação dele na Assembleia da República já entra perfeitamente no ilusionismo do seu cumprimento. Que não é o mesmo do seu comprimento. A greve geral? Uma prestidigitação. Como se tornou habitual, as forças sindicais falam em esmagadores 90% de adesão; o Governo nuns escassos 20%. Quem se terá enganado? Quem terá sido enganado?

E o FMI? E a União Europeia? E o senhor presidente Durão Barroso? E o Banco Central Europeu? E o senhor ministro Teixeira dos Santos? E o senhor deputado Miguel Relvas? E o senhor secretário geral Jerónimo de Sousa? E o senhor grande educador Francisco Louçã? E outros senhores? E, enorme Raphael Bordallo Pinheiro, o pobre Zé Povinho?

Basta de tanto sofrer. Ó senhor Luís de Matos, faça o favor de explicar televisivamente aos súbditos de Sua Graciosa Majestade que a Aliança mais velha do Mundo foi, na verdade uma magia de encantar. Nos. Na verdade, mágicos da casa não fazem milagres.