segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vento

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Por João Paulo Guerra

NÃO ESTAVA previsto, como garantiu um membro do Governo, mas passou a estar: Sexta-feira há tolerância de ponto em Lisboa, excepto para 60 chefes de Estado e de Governo, respectivas comitivas e guarda-costas, para além de um batalhão de polícias mobilizado para garantir a segurança da Cimeira da NATO, em especial contra a ocorrência de um atentado terrorista que o ministro da Administração Interna tem a profunda convicção que estará iminente.

O ministro foi acusado de "alarmista", mas que seria dos sistemas de alarmes se não fossem os alarmistas? Se não houver atentado - como se espera - o ministro vai dizer que mais vale prevenir que remediar. Se houver, o ministro vai proclamar a sua presciência: "Eu não dizia?".

A convicção do ministro baseia-se na presença, que já terá sido detectada em Portugal por serviços secretos "amigos", de elementos ligados a grupos extremistas, treinados no uso de armas e explosivos, muitos deles antigos polícias e militares. E aqui, a convicção do ministro começa a fazer algum sentido. É que antigos polícias e militares, juntos, ao vivo e em número de "muitos", das duas, uma: ou andam infiltrados entre outros extremistas para ver em que param as modas, ou preparam alguns efeitos especiais que virão a dar razão ao ministro e justificarão, por parte da Cimeira, a adopção de medidas de maior dureza e largueza contra o inimigo sem rosto do "terrorismo". Porque quanto ao terrorismo com rosto, o que se conhece, o próprio Bin Laden, foi uma criação de um serviço secreto.

E agora, a vigilância aí está. Sexta-feira passada, em comunicação telefónica com um edifício na zona limite da área da Cimeira foi-me dito que se notava um certo "vento" na linha. Mas, como toda a gente sabe, "o vento não bate assim".
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«DE» de 15 Nov 10